COLABORE

Outras narrativas: a migração contada por quem migra

Projetos

Projeto Orinoco, da Cáritas, promove ações de comunicação construídas a partir do olhar de migrantes da Venezuela

Publicação: 23/09/2021


Chegar em um país desconhecido, depois da decisão de deixar o território de origem, é um movimento que tece diferentes histórias. Trajetórias que podem ser vistas por diferentes ângulos, mas quando contadas por quem vive, traz uma riqueza de detalhes precisos e também sensíveis. 


Desde 2018, segundo dados divulgados pela ACNUR, agência da ONU para refugiados, já foram registradas 177.378 pessoas em situação de refúgio e migração em Roraima. Muitas histórias têm atravessado a fronteira nestes últimos anos, irmãos e irmãs que pedem acolhida e apoio.


É a partir desta acolhida e neste intervalo de tempo, entre a chegada de venezuelanos e venezuelanas no estado, que a Cáritas Brasileira e a Cáritas Diocesana de Roraima lançam, em 2019, o projeto “Orinoco: Águas que Atravessam Fronteiras”, uma iniciativa que busca ofertar à pessoas em situação de rua e vulnerabilidade acesso à água potável, saneamento e higiene, em duas cidades: Pacaraima, cidade fronteiriça à Venezuela, e Boa Vista, capital de Roraima.


O impacto desta ação, que é financiada pelo Escritório de Assistência Humanitária da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (BHA/USAID), foi narrado por migrantes que chegaram ao Brasil e encontraram no projeto Orinoco assistência e acolhida. Essa narrativa deu corpo ao documentário “Migrar e Atravessar Fronteiras”, lançado pela Cáritas, em setembro.


Maria Molina, migrante venezuelana, que hoje coordena localmente o projeto, abriu o vídeo contando a sua chegada em Pacaraima e a identificação com a instituição, que começou a partir do voluntariado. “Como voluntária, eu passei quase um ano ajudando nos diferentes projetos que tinham, de interiorização, de assistência humanitária, aí depois veio a minha oportunidade: a Cáritas me acolheu como profissional.”, disse. 


Assista: 



Narrativas que se conectam 


O olhar de quem vive momentos de desafio, mas os enfrentam com “esperançar”, historicamente é uma perspectiva valorizada pela Rede Cáritas, que enxerga na comunicação popular um caminho de emancipação das pessoas e de sensibilização para a prática da solidariedade libertadora, como acredita Valquíria Lima, coordenadora nacional da Cáritas Brasileira. 


"Nós precisamos falar da realidade das pessoas, precisamos falar das realidades das comunidades, da realidade dos territórios, das realidades mais vulneráveis e a comunicação é um instrumento essencial para isso", explica Valquíria, que acredita que  é fundamental estar presente o olhar de quem vive na pele a realidade relatada, na construção de  anúncios e denúncias. 




Foi com esse princípio, que inserida na atuação do “Orinoco: Águas que Atravessam Fronteiras”,  foram realizadas quatro oficinas de comunicação popular para o público que faz parte das ações do projeto, duas em Boa Vista e duas em Pacaraima, uma delas voltada para a comunidade indígena Tarau Paru, que acolhe migrantes indígenas da Venezuela.


O ciclo de oficinas que levou o nome de “Comunicação é direito: Comunicar para o Bem Viver'', buscou fortalecer o debate de democratização da comunicação, como também elevar a importância dos e das participantes se enxergarem como sujeitos e sujeitas de suas próprias histórias. 


Willians José Ledezman, venezuelano e comunicador social, que participou da oficina em Boa Vista, disse que ficou satisfeito em participar do momento e que tem o desejo de multiplicar o que foi discutido. " Eu agradeço a Cáritas Brasileira por nos abrir a porta, para que nós possamos mostrar o melhor que nós somos para as pessoas que estão aqui e de outros países"., disse ao reforçar a importância de desconstruir estereótipos e fortalecer narrativas humanas.


Durante as oficinas foram discutidas algumas técnicas de produção de conteúdo e de forma prática produzido um jornal comunitário com textos e fotos produzidos pelas pessoas que participaram do momento.




Registros realizados durante as oficinas de comunicação, pelas/os migrantes e indígenas 


Visibilidade das ações


Se por um lado é importante a valorização e construção de narrativas a partir dos sujeitos e das sujeitas de direitos, por outro é fundamental visibilizar essas histórias. Com esse intuito, a Cáritas Brasileira e a Cáritas Diocesana de Roraima promoveram um evento de lançamento do curta “Migrar e Atravessar Fronteiras”, em um Espaço Cultural na capital Roraimense. O intuito foi dialogar com pessoas sensíveis a causas humanitárias, mas que não estão presentes nos círculos de atuação das organizações da sociedade civil. 




Para Raphael Macieira, coordenador nacional do projeto, mostrar essa ação a partir da perspectiva dos e das migrantes que são atendidas pela iniciativa reflete um mundo de solidariedade que é urgente construir.


“Neste vídeo final desta segunda fase do projeto conseguimos ter uma perspectiva, através do olhar de quem chega no país com esperança e que encontra aqui no Brasil uma rede de apoio e de oportunidades”, disse Macieira.


O momento foi de diálogo, cultura e celebração. “O amor é a palavra-chave que explica o porquê da nossa presença aqui. Em latim, o amor significa Cáritas e  quando tem gente trabalhando com a Cáritas, tem gente cultivando ações com amor.”, disse Padre Lúcio Nicoletto da direção da Cáritas Diocesana de Roraima, ao dialogar sobre as ações que alimentam o bem e transformam pessoas.




No lançamento, realizado no dia 18 de setembro, estiveram presentes representantes de organizações parceiras da Rede Cáritas, como escritórios das Nações Unidas, organizações da Igreja, organizações sociais e instituições ligada à atuação nos temas de migração e WASH, sigla usada para definir água, saneamento e higiene. O momento também contou com a presença da representante da USAID no Estado, Angelica Salas.



Tag