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Em Manaus (AM), projeto Mulheres de Axé amplia atividades de geração de renda

Projetos

Cáritas Brasileira, Fundação Banco do Brasil e União Europeia fomentam a Economia Popular Solidária

Publicação: 08/01/2020



“O turbante para nós que somos povo de terreiro é o empoderamento da mulher, é minha coroa", Flor de Nave


“É um trabalho que ajuda o nosso Ilê¹, auxilia as nossas irmãs,  têm muitas desempregadas. Então tudo isso ajuda! Eu faço vários tipos de artesanato: bonecas de meia, bonecas de lã,  pulseiras. Também uso os jeans para fazer bolsas, blusas e vários tipos de coisas que  eu mesma vou personalizando. E o que me faz muito feliz é que  nós trabalhamos todas juntas, cada uma faz um tipo de coisa, e, em comunidade ajudamos a outra o outro”, Farlene Martins Pinto, artesã do Mulheres de Axé 



Grupo Mulheres de Axé,  atua no resgate da cultura e dos valores sociais das mulheres das comunidades de terreiro


Por Olga Oliveira – Especial para a Cáritas Brasileira

Fotos: Virgínia Maria Yunes – Especial para a Cáritas Brasileira


Em Manaus (AM), na Colônia Oliveira Machado, o projeto Mulheres de Axé, ao ser contemplado com assessoria técnico-financeira da Cáritas Brasileira, Fundação Banco do Brasil (FBB) e União Europeia (UE), vem ampliando seus trabalhos junto às mulheres e jovens no campo da geração de renda, nos trabalhos de prevenção de doenças como a depressão, câncer do colo de útero, HIV e conscientização sobre o uso de remédios naturais, no cuidados com a natureza, entre outras atividades. 

Mulheres de Axé é composto por 30 mulheres e está ligado às práticas de povos e comunidade tradicionais, em especial, na promoção e resgate da cultura e dos valores sociais das mulheres das comunidades de terreiro. 

Por meio do projeto Fortalecimento da Economia Solidária no Brasil, do qual Mulheres do Axé faz parte, 166 empreendimentos econômicos solidários, foram apoiados em todo o território brasileiro. Os segmentos atendidos são da agricultura familiar, reciclagem de resíduos sólidos, pesca artesanal e finanças solidárias, com o objetivo de valorizar as práticas culturais e geradoras de coletivos.

Para Alfa de Jesus Martins, Assistente Social da Cáritas Arquidiocesana de Manaus, o projeto Mulheres de Axé, cresceu muito com o apoio recebido, tanto no trabalho de sensibilização da importância da mulher no núcleo familiar, na prevenção de doenças, como também na produção de artesanatos e adereços usados na prática religiosa de matriz africana. “Essa inclusão social tem aumentado a autoestima dessas mulheres e ajudado muito na economia familiar”, conta. 

Com o apoio do projeto foram adquiridos máquinas de costura, tecidos e aviamentos para confecção de bolsas, bijuterias, turbantes, saias, blusas e outros produtos confeccionados pelas mulheres participantes. 

Segundo a coordenadora do projeto Mulheres de Axé, Flor de Nave, com este auxílio puderam ampliar suas atividades e tem alcançado mais mulheres nos em outros terreiros que necessitam gerar renda para o sustento de suas famílias. Ela revela que o encontro entre as mulheres, para as atividades, têm gerado conversas que contribuem para superação da solidão, quadros de depressão e na descoberta de mulheres que sofrem com câncer e outras doenças, mas não tinham acesso à informação e, principalmente, aos cuidados médicos necessários para tratá-los. “Para nós, mulheres de terreiro, este apoio, foi de extrema importância, porque salvou mulheres que estavam isoladas em suas casas, com uma série de sofrimentos humanos, e que hoje estão superados com os cuidados médicos, conversas e inserção social, empoderando-as nos diversos aspectos da vida. Para nós, isto é uma vitória!”, revela Flor.

Afonso de Oliveira Brito, Secretário-executivo da Cáritas Arquidiocesana de Manaus, conta que o grupo Mulheres de Axé é um coletivo muito forte e organizado, contudo, precisava de equipamentos para que o processo de produção pudesse ter maior qualidade e aumentar o  volume dos produtos. “Então, o apoio que recebemos da União Europeia e Fundação Banco do Brasil, foi de fundamental importância para alavancar o trabalho delas, melhorar a renda, a qualidade de vida, o aumento da autoestima e solidificou o trabalho de geração de renda a partir do fomento da Economia Popular Solidária. Nós ficamos felizes por isso”, conclui.


“Para nós, mulheres de terreiro, este apoio [Cáritas], foi de extrema importância, porque salvou mulheres que estavam isoladas em suas casas, Flor de Nave


Autoestima e sustentabilidade por meio da Economia Popular Solidária

O projeto Mulheres de Axé vem contribuindo desde 2002 para a melhoria e valorização das práticas do povo de terreiro. Contudo, desde 2018 vem se destacando no trabalho junto às mulheres e jovens através do cuidado com saúde, a geração de renda e atividades culturais.

Mulheres de Axé vem contribuindo de forma substancial para a melhoria de vida das mulheres a partir das ações junto aos terreiros, com ajuda de redes de serviços que tratam da saúde da mulher, verificou grande índice de vulnerabilidade socioeconômica, ausência de acesso à cultura, à educação e a falta de políticas públicas, .  Pois esses fatores dificultavam o acesso das mulheres à realização cuidados e prevenção de doenças e às questões culturais da religião de matriz africana, com isso, o projeto Mulheres de Axé.

Alfa de Jesus Martins conta que os projetos que fomentam a Economia Popular Solidária na Cáritas Arquidiocesana de Manaus são de grande importância e relevância no momento atual, sobretudo, na atuação junto às mulheres e jovens que estão em situação de risco, vulnerabilidade econômica nas periferias em Manaus. 


Mulheres de Axé  favorece a interação e a autoestimas entre as participantes do Projeto


A prática da Economia Popular Solidária transforma a vida de mulheres na Amazônia

Flor de Nave, que atua na organização há mais de sete anos, conta que iniciou o projeto em Manaus, após diálogos com a comunidade. “Percebemos a falta de interação entre as mulheres, a solidão delas e escutamos os relatos de algumas que não tinham como manter suas famílias, então começamos a pensar sobre a sustentabilidade dentro do terreiro”, aponta. 

Num primeiro momento, o grupo pensou em fazer turbantes. “Era uma coisa bem mais fácil de confeccionar e que traz autoestima para estas mulheres bem como fazer bijuterias, e foi assim que começamos”, conta. Com isso, o projeto e foi crescendo. “Aos poucos, fomos estabelecendo parcerias, entre elas, com a Cáritas que deu um grande apoio, tanto técnico como financeiro, também de acompanhamento em várias reuniões, criando espaços de encontros, nas casas, isto gerou o processo inicial do projeto”, diz Flor de Nave. “Queremos difundir em outros terreiros a ideia das mulheres autossustentarem, e que também  trabalham com produtos de manipulação extraídos da natureza com banhos de ervas medicinais, chás e outros produtos, e assim, o  Mulheres de Axé vai se consolidando”, explica Flor.

Na sede do projeto, todas as mulheres usam turbantes e eles também são confeccionados para vender. Então, perguntei a Flor de Naves, sobre a origem do turbante. Ela respondeu: “O turbante para nós que somos povo de terreiro é o empoderamento da mulher, é minha coroa, é aquilo que protege o tecido protege meu ori²  que é a parte sagrada do meu corpo. Para nós tem toda essa definição, mas o turbante vem de geração milenar e aumenta a auto estima da mulher, com isso as mulheres deixaram de alisar o cabelo e usar mais o turbante”, revela. Flor ressalta que é importante pontuar que o uso do Turbante se estende às crianças, homens e mulheres. “É imprescindível reafirmar o símbolo que o turbante representa: autoafirmação, empoderamento negro, resistência ao sistema racista e segregacionista, conexão ancestral e fortalecimento da negritude. Além de todos estes usos, fazemos um trabalho social com mulheres com câncer. Nós as visitamos e ensinamos a forma de amarração, usar turbante, usar os lenços que são vários tipos de turbantes, com modelos diferentes para valorizar mais essa mulher que precisa aumentar a sua autoestima”, conta.


Com o trabalho de artesanato  as mulheres geram  renda para o sustento da família e fortalecem a qualidade de vida


Com o trabalho de autoestima, o projeto atua em parceria com profissionais da área de saúde, médicos, dentistas e psicólogos e realizam um trabalho de prevenção. Entre várias formas de precaução, falam sobre a proteção do HIV entre os jovens. Segundo o Mulheres de Axé, dentro dos terreiros, há muitos soropositivos nessa faixa etária.” Flor de Naves, segue dizendo: “Fazemos também um trabalho falando sobre medicina alternativa que é medicina que a gente traz com folhas e ervas, banhos", afirma. 

“Dentro do trabalho do cuidar da natureza, do cuidar da casa, do acolher, é o que almejamos com essas mulheres é que elas aprendem a fazer os tratamentos também com ervas com chá com as plantas, é muito importante valorizar o que tem na mãe terra, é a natureza e isso nos leva a refletir com elas também sobre o  cuidado que temos que ter com a natureza”, conclui Flor.

Outro aspecto relevante entre as mulheres artesãs do projeto foi o que nos contou Luciana Cristina. “Faço parte do grupo Mulheres de Axé como artesã, atuo no trabalho com bijuterias afro, turbantes, acessórios da linha afro, com artesanatos feitos de barro, como vasos, vejo todas estas atividades como uma afirmação da cultura afro da nossa religião na nossa sociedade, é uma afirmação daquilo que vivemos e acreditamos”, partilha.  


A cumplicidade entre as Mulheres de Axé favorece para a superação das dificuldades


¹Ilê: Casa, moradia, residência; por extensão, a palavra é usada para designar barracões onde se pratica o Candomblé. 

 ²Ori: Originalmente é um Orixá pessoal, a força e a intuição espiritual própria (e única) de uma pessoa, mas, na prática, essa palavra é usada para designar a cabeça e, mais especificamente a coroa, o chacra coronal. Em alguns cultos também se diz OTI. Fonte: casademiguelarcanjo.com.br/pomba-gira/dicionario-da-umbanda





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