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Diagnóstico para Migra Segura entrevistou centenas de migrantes venezuelanos no Brasil e no Equador.

Projetos

Objetivo é traçar um perfil das necessidades de informação dessa população. Ação foi realizada em dezembro.

Publicação: 06/01/2021


O Projeto Migra Segura está desenvolvendo uma plataforma de informações para a população venezuelana que entra no Brasil e no Equador. Com a aplicação, será possível encontrar orientações mais fáceis de compreender sobre legislações, sobre espaços de acolhimento, indicações das redes socioassistenciais, entre outros. Durante sua fase piloto, o Migra Segura pretende beneficiar 56 mil migrantes no Brasil e no Equador. Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), mais de 5 milhões de pessoas já saíram da Venezuela em um ritmo de migração gigantesco. No Brasil e no Equador, há mais de 680 mil venezuelanos migrantes, muitos deles sem essas informações básicas para organizar suas vidas, o que intensifica ainda mais os problemas enfrentados por essas pessoas.

Uma das primeiras ações do projeto é entender mais sobre essas necessidades de informação. Para isso, a Cáritas Brasileira e a Cáritas Ecuador, que executam em parceria a iniciativa, financiada pela USAID e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID, com o apoio do Catholic Relief Services – CRS, através do BetterTogether Challenge (iniciativa global de soluções inovadoras), realizaram um diagnóstico com cerca de 800 consultas nos dois países.

Sobre a importância de se construir um diagnóstico dessas necessidades, Thamirys Lunardi, então coordenadora do Migra Segura no Brasil, ressaltou que a força do embasamento da ação está na organização de dados sólidos e não em percepções individuais e subjetivas. “Muitas vezes [essas percepções] podem estar equivocadas. É muito importante evitar a construção de esteriótipos”, afirma Thamirys.

Segundo Lunardi, “é importante colocar a pessoa migrante no centro da construção da nossa resposta. A pessoa migrante deve ser o protagonista das nossas ações, mas não a partir do que entendemos ser importante ou interessante, mas sim a partir do que eles nos transmitem como sendo relevante. Não faz sentido pensarmos em construir uma plataforma de informação para pessoas venezuelanas se essas preferências não forem levadas em consideração. Então, para nós, a pessoa migrante deve sempre ser protagonista dos processos de construção da resposta e também um sujeito protagonista das ações em defesa de seus direitos.”


Evidências e histórias

A partir da análise preliminar dos dados do diagnóstico, o projeto já percebeu que são as mulheres as responsáveis pela vida burocrática e documental das famílias. “Este é um peso muito grande, pois os migrantes encontram no Brasil uma complexidade burocrática desconhecida que faz com que as decisões acerca da regularização migratória da família, como um exemplo, seja algo muito confuso e extenuante para as pessoas”, analisa Thamirys.

No Brasil, o voluntário Edwin Mejías realizou algumas das centenas de entrevistas da ação. “O que mais me chamou a atenção nas pessoas que entrevistei foram seus olhos, cheios de sinceridade, esperanças, sonhos, luta, vontade de seguir em frente, de continuar vivendo, de coragem, de forças internas inesgotáveis. Eles mostram que apesar dos difíceis começos e da dureza dos motivos pelos quais estão aqui, desistir não é uma opção para nenhum deles”, revela Edwin.

Destacando a força de vontade das pessoas na chegada ao Brasil, o voluntário compartilhou uma das muitas histórias que ouviu durante o processo de entrevistas. “Um casal com um filho que empreendeu uma jornada de 20 dias fugindo da Venezuela, da fome, da violação dos direitos humanos, da violência, buscando mudar de vida, saiu de casa sem dinheiro, caminhando do Nordeste venezuelano para o Brasil. Enfrentaram muitas adversidades, mas a vontade de sobreviver foi mais forte que qualquer obstáculo, Cruzaram rios, montanhas... enfrentaram o Sol, frio, chuva, fome, cansaço, sono, pés quebrados, crime e perseguição… De tudo o que viveram, parados na minha frente, sem nada, apenas uma mochila com documentos pessoais, tenho certeza que ficarão bem e irão progredir.”

Contando sobre as histórias as quais teve contato, Edwin fez um paralelo sobre a importância dos dados para as ações informativas do Migra Segura: “o projeto se faz necessário para nossos irmãos que estão chegando e precisam de ajuda. O objetivo do projeto é atendê-los e ajudá-los nos primeiros passos como migrantes. Fico feliz em saber que os resultados da pesquisa, como estão, serão maravilhosos para eles.”

Entrevista para o diagnóstico no Brasil. (Foto: Edwin Mejías / Arquivo pessoal)


Entrevistas no Equador

Karina Villacis, coordenadora do projeto no Equador, fortaleceu a importância de que a plataforma seja desenvolvida com base nas necessidades das pessoas migrantes. “É importante conhecer as perspectivas e pontos de vista dos próprios migrantes. Conhecer as suas necessidades de informação nos permite ser mais assertivos com as informações que iremos hospedar na plataforma desenhada para eles, para que possam encontrar informações fiáveis e seguras.”

Por lá, voluntários e voluntárias também se engajaram na realização do diagnóstico. Um deles foi o Oscar. Ele ficou surpreso com a atenção que lhe deram quando se apresentou como voluntário da Cáritas Equador. “Eles imediatamente pararam de fazer qualquer atividade para ouvir sobre a pesquisa. Eles têm expectativas muito boas sobre a organização Cáritas Equador e se sentem cuidados, apoiados – sentem-se seguros de serem ouvidos pela Cáritas.” Oscar comentou que também lhe surpreendeu o bom humor e a alegria das pessoas. “Em algumas perguntas, eles riam, apesar de suas necessidades.”

Para o voluntário, a partir do que ouviu nas entrevistas, um desafio para o Migra Segura será a conexão à internet das pessoas migrantes, embora a maioria dos entrevistados lhe afirmou que é extremamente urgente e necessário ter uma plataforma web que lhes forneça informações.


Oficina e preparação

Para a realização das entrevistas do diagnóstico nos dois países, tanto a Cáritas Brasileira quanto a Cáritas Ecuador fizeram momentos de oficina com os voluntários e voluntárias. Nas oportunidades, foram abordadas dúvidas sobre as abordagens, informações gerais e instruções acerca da plataforma de dados e produção de imagens.

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