Maria Celina Leles Castro, de 66 anos, atua na Catanorte, uma cooperativa de coleta e comercialização de resíduos sólidos | Foto: Virginia Maria Yunes
A Cáritas Brasileira atua há 40 anos na área Economia Popular Solidária. Hoje fazemos memória de algumas ações de fomento e assessoria que a instituição realizou: o Projeto Fortalecimento da Economia Popular Solidária no Brasil, que fomentou 166 empreendimentos de Economia Popular Solidária nas cinco regiões do país. A iniciativa contribuiu, na perspectiva do desenvolvimento solidário sustentável e territorial, com formações e fomento na geração de renda para populações em situação de vulnerabilidade socioeconômica. O Projeto teve apoio da União Europeia e Fundação Banco do Brasil.
Olhar longe, tocar o chão, transformar
O menino não conhecia o mar. O pai o levou para que o descobrisse. Viajaram juntos. “Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:
- Pai, ensina-me a olhar!”.
É assim que Eduardo Galeano conta em sua microcrônica, em O Livro dos Abraços, o êxtase de Diego que foi levado por seu pai Santiago Kovakloff para descobrir o mar. Podemos comparar a proposta da Economia Popular Solidária (EPS) como esse vislumbre do mar à frente, precisamos de ajuda para olhar, alcançamos porque fomos levados/as, apresentados/as por alguém. E essa proposta muda a vida de muitas famílias, de muitos grupos, de inúmeros empreendimentos de economia solidária, como provocou o projeto de Fortalecimento da Economia Solidária no Brasil, coordenado pela Cáritas Brasileira, que fomentou 166 empreendimentos nas seis regiões do território brasileiro. Este material é fruto dessa jornada.
A Cáritas Brasileira há mais de quatro décadas fomenta a EPS em todo o Brasil, com base nos princípios da autogestão, da solidariedade, da democracia, da cooperação e do bem viver, fundados nos e direitos humanos e da natureza.
No atual cenário, diante de políticas econômicas liberais que provocam a erosão do salário mínimo e a retirada dos direitos sociais, a exclusão social se acentua. É fundamental fortalecer empreendimentos que atuam na Economia Popular Solidária para mobilizar outras economias possíveis, para além do modelo capitalista em curso. Esse caminho possibilita o processo de dignificação de cada pessoa a partir da ação coletiva. Também abre espaço para que haja a resistência necessária à precarização do trabalho, e assim ocorra a cooperação entre iguais, sem competitividade ou exploração sobre o/a outro/a, ou sobre a natureza.
A Economia Popular Solidária é o lugar em que as pessoas, os coletivos são convidados a tomar uma postura caminhante, afetar e ser afetado; transformar e ser transformado. Por fim, construir caminhos de subversão em que o lucro – depois de todas as contas pagas, o excedente econômico é dividido entre todos/as –, não os salários, sejam compartilhadas entre os cooperados.
Fonte: Relatório Fortalecimento da Economia Solidária no Brasil - Brasília, janeiro de 2020
Baixe o livro que traz a narrativa do Projeto de Fortalecimento da Economia Popular Solidária no Brasil
Acompanhe, abaixo, ao vídeo sobre o Projeto Fortalecimento da Economia Popular no Brasil