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"Somos o primeirar”: mulheres que anunciam o evangelho de Jesus Cristo

Igreja

Mulheres ganham destaque na Igreja do Brasil, mas ainda enfrentam desafios na participação em espaços de gestão e decisão.

Publicação: 26/04/2023




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Mulheres marcam presença ativamente na 60ª Assembleia Geral da CNBB. Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


Durante a 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a presença ativa das mulheres foi evidenciada, tanto nos debates do evento quanto nas reflexões posteriores, o que representa um importante avanço na inclusão e valorização do papel feminino na Igreja. A presença e participação das mulheres têm sido cada vez mais de protagonismo, embora ainda haja muito a ser conquistado em comparação com anos anteriores.


Constantes avanços

Irmã Regina da Costa Pedro, diretora nacional das Pontifícias Obras Missionárias provincial das Irmãs da Imaculada, do Pontifício Instituto das Missões Exteriores (PIME), destacou a presença das mulheres na 60ª AG CNBB, afirmando que embora a participação ainda seja limitada, estar presente já é um sinal de representatividade. Ela ressaltou que algumas mulheres já ocupam cargos de liderança em instituições eclesiais, como a coordenação de institutos e organismos nacionais e secretarias de regionais da CNBB.



A Diretora Nacional das Pontifícias Obras Missionárias, Irmã Regina da Costa Pedro. Foto: Valquíria Lima/Cáritas Brasileira

Regina ressalta que esses passos dados indicam avanços, mas ainda há muito a ser feito para garantir uma participação mais ativa das mulheres na Igreja do Brasil. Ela baseia sua opinião nos ensinamentos do Evangelho e na história das primeiras comunidades cristãs, onde Jesus mesmo deu importância a Maria Madalena na obra da evangelização, confiando a ela a missão de ser "apóstola dos apóstolos", anunciando a alegria da ressurreição aos discípulos. 


Além disso, nas primeiras comunidades cristãs, as mulheres exerciam um papel fundamental, abrigando a igreja em suas casas e realizando serviços de caridade e anúncio da Palavra. A presença e participação das mulheres na Igreja do Brasil, portanto, são consideradas de grande importância, com a necessidade de avançar ainda mais nesse sentido.


No entanto, Regina reconhece que, apesar dos avanços conquistados, ainda há muito a ser feito para promover a participação ativa das mulheres na Igreja do Brasil. Ela cita seu próprio exemplo como a primeira mulher a ser nomeada diretora das Pontifícias Obras Missionárias no Brasil, evidenciando que, embora seja um passo positivo, ainda é necessário questionar por que isso ocorreu apenas agora: “por um lado dizemos: — olha que bom foi um avanço. Por outro lado, dizemos: — nossa é a primeira? Então, graças a Deus os caminhos já estão se abrindo, mas é necessário dar passos ainda mais”, disse.


Amor à missão


Irmã Veneranda Alencar, da Congregação das Irmãs Missionárias de Santa Teresinha e Coordenadora Nacional da Pastoral da Criança, fala da ressalta a importância das mulheres na igreja do Brasil. Segundo ela, as mulheres desempenham um papel fundamental na missão evangelizadora junto às famílias e aqueles que mais precisam. Apesar de serem maioria na igreja, muitas vezes são minoria em espaços como a 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.


Veneranda afirma que o serviço das mulheres na igreja nem sempre é visível, mas isso não diminui sua importância. Ela cita uma frase de sua congregação, as Irmãs Missionárias de Santa Teresinha, “"Nada é pequeno onde o amor é grande". Eu acredito que nós mulheres temos esse amor para com a missão, por isso é o nosso serviço, mesmo que nos bastidores, a gente está servindo para que o reino de Deus aconteça dia a dia nessa assembleia.”



"Nada é pequeno onde o amor é grande" Irmã Veneranda Alencar leva os ensinamentos de Santa Teresinha na missão da igreja. Foto: Valquíria Lima/Cáritas Brasileira


Desafios


A importância das mulheres na igreja do Brasil é inegável, apesar dos desafios enfrentados, como a sub-representação em certos espaços de liderança. A contribuição das mulheres é fundamental para a construção de uma igreja mais igualitária.


Para Sônia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), a mulher desempenha um papel fundamental na igreja brasileira, enfrentando desafios e assumindo co-responsabilidades na evangelização.


De acordo com ela, a importância da mulher na igreja do Brasil é evidente devido aos desafios e características peculiares dessa igreja. Ela destaca a regionalização e os desafios da evangelização como elementos que demandam a presença ativa das mulheres. Ela afirma: “A igreja do Brasil é mantida pelas mulheres” e ressalta a animação das comunidades, o serviço nas pastorais, movimentos e organismos como exemplos do protagonismo feminino na igreja.



Da esquerda para a direita: Sônia Gomes, do CNLB e Valquíria Lima, da Cáritas Brasileia, ambas em cargos de coordenação e direção em suas organizações.  

Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


Sônia reconhece que, apesar dos avanços, as mulheres ainda enfrentam obstáculos. “Infelizmente ainda estamos em segundo plano nesta igreja do Brasil. Desde a abertura da igreja, a animação das comunidades, o serviço que nós mulheres fazemos nas pequenas comunidades, nas diversas pastorais e movimentos, nos vários organismos que nós somos mulheres. É por isso que eu vejo que a importância é muito grande e aí essa questão do testemunho e aí eu tenho também dito que nós mulheres precisamos entender esse papel que nós desenvolvemos na igreja”.


Missão continental


A participação da Cáritas Brasileira no "I Encontro Latino-americano e do Caribe: Mulheres em Sinodalidade" foi destacada como um exemplo do progresso gradual das mulheres na igreja. Mais de 25 mulheres representando redes eclesiais, incluindo a Cáritas, estiveram presentes no evento, como a Rede Eclesial da Amazônia (REPAM), a Rede Eclesial Ecológica Mesoamericana (REMAM), a Rede Eclesial do Grande Chaco e Aquífero Guarani (REGCHAG), a Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) além de representantes da Pastoral Afro-americana e do Caribe, da pastoral do povo Garífuna, dos povos originários e da pastoral juvenil. Uma declaração foi realizada ao final do evento e pode ser conferida aqui.


Cristina dos Anjos, da assessoria nacional da Cáritas Brasileira, reforça a importância da representatividade: "Nossa participação neste evento nos permite contribuir na reflexão sobre a presença da mulher na igreja e na sociedade, com base em nossas experiências, e também nos aproximar de outras mulheres do continente que enfrentam desafios semelhantes". 


A participação da Cáritas Brasileira em um evento sobre a presença da mulher na igreja e na sociedade representa uma oportunidade valiosa para a organização contribuir com a reflexão e o debate sobre o tema. A participação ativa das mulheres em debates e eventos é vista como um passo significativo nesse sentido, permitindo que suas vozes sejam ouvidas e suas perspectivas sejam consideradas.


Igreja viva


Valquíria Lima, da coordenação colegiada nacional da Cáritas Brasileira, destaca também o longo caminho a percorrer na busca pela equidade de gênero dentro da igreja, mas do mesmo modo ressalta as conquistas e importância das mulheres na vida religiosa. “São as mulheres que tornam a igreja viva, resistente, pulsante. São as mulheres que estão com os pés no chão, nas comunidades, nos territórios mais distantes, nas ações: de cuidado, emergenciais, de socorro,  evangelização, educação, formação. Estão presentes também na formulação, no pensamento crítico e na capacidade de influenciar para que a igreja possa dar passos significativos de reconhecimento e do protagonismo das mulheres e da importância das mulheres, não só no espaço de fazer, mas no espaço de decidir”, destaca. 



Foto: Acervo/Cáritas Brasileira


A participação da Cáritas Brasileira em eventos como o "I Encontro Latino-americano e do Caribe: Mulheres em Sinodalidade" e a 60ª ‎AGCNBB são fundamentais para a construção de uma igreja sinodal, representativa e inclusiva, que valorize o protagonismo das mulheres e reconheça sua importância no espaço de decisão. A Cáritas reafirma seu compromisso em contribuir com a construção de uma igreja do povo de Deus, em saída para os desafios contemporâneos. 

  


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