“Mariama, Mãe querida, problema de negro acaba se ligando com todos os grande problemas humanos. Com todos os absurdos contra a humanidade, com todas as injustiças e opressões.” Em sua “Invocação à Mariama,” Dom Helder Camara é objetivo: o racismo precisa ser superado. Essa opressão, que atenta contra a vida das pessoas negras, se estrutura no mundo, e no Brasil, país em que a maioria da população é negra, ainda se faz necessário que sejam realizadas ações de enfrentamento ao racismo e de valorização da cultura e identidade negra.
Com o objetivo de somar esforços na busca da superação das desigualdades sociais, o Projeto Sumaúma: Nutrindo Vidas, da Cáritas Brasileira, realizou na tarde do dia 21 de novembro uma oficina de turbantes, na sede do projeto, na Igreja da Consolata, em Boa Vista-RR. A ação contou com a participação de quase 100 pessoas migrantes e refugiadas. O momento foi de descontração e muito aprendizado já que o mês da Consciência Negra simboliza a resistência e a reflexão dos povos negros no Brasil, por meio da homenagem do líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, morto em uma emboscada pelas tropas coloniais brasileiras, no ano de 1695, após sucessivos ataques.
A data também chama à reflexão sobre a dívida histórica que a sociedade brasileira tem com o povo negro, que foi explorado pela escravização, que, no Brasil, durou 300 anos, durante o período colonial e imperial, e ainda hoje tem reflexos nas desigualdades que a população negra sofre.
Valorização e Identidade negra
Jennifer Palomeque é voluntária do Projeto e durante a oficina ela deu uma palestra sobre a história do turbante e também ensinou as diferentes formas de amarração do turbante. “Esse espaço é muito importante para lembrar que as mulheres negras têm identidade e beleza, muitas vezes isso está escondido devido o racismo e xenofobia. Essa beleza ancestral nos acompanha e devemos vê-la com grandeza”, ressaltou.
A dinâmica ocorreu em dupla, onde cada pessoa pegou um lenço, aprendeu a fazer a amarração para depois praticar no colega. Jessica Marrero ficou feliz em participar da atividade. "Eu gostei de tudo o que vi aqui na oficina. Para mim é muito importante, pois aprendi algo novo que eu não sabia”, finalizou.
Enfrentamento ao racismo
Cristian Casino, é de nacionalidade Venezuelana e disse que estava passando pelo local quando parou e se interessou pelo tema. A palestrante Jennifer, utilizou ele como modelo para fazer uma amarração com lenço. “ Eu estava utilizando o espaço, quando de repente a ação começou e me chamou a atenção. Resolvi participar e me senti muito bem”, disse feliz.
O evento também contou com a participação da Socióloga da Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social, Rose Souza e Silva, que falou sobre relações sociais, discriminação e xenofobia. Equipes do Projeto Orinoco, também participaram da ação com um momento direcionado à higiene e boas práticas de lavagem das mãos
Promover ações de enfrentamento ao racismo e as desigualdades sociais, fazem parte dos objetivos da Cáritas Brasileira. “A oficina foi voltada principalmente a mulheres migrantes. Além de propor uma reflexão sobre o racismo estrutural, a ação ocorreu nos 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres. Então, foi um momento de diálogo e visibilidade dessas identidades, como forma de fortalecer a luta pelo fim das desigualdades”, disse a Coordenadora Nacional do Projeto Sumaúma, Giovanna Kanas.
Sumaúma: Nutrindo Vidas é uma ação da Cáritas Brasileira, com financiamento do Escritório de Assistência Humanitária (BHA) da Agência dos Estados Unidos pelo Desenvolvimento Internacional (USAID). Durante a implementação, o projeto prevê que serão preparadas 916 mil refeições, servidas para uma média de 6 mil pessoas migrantes venezuelanas em Boa Vista. A execução do projeto acontece em parceria com o projeto Mexendo a Panela, e com a Cáritas Diocesana de Roraima.