COLABORE

O novo normal e o protagonismo do povo preto, reflexões sobre a luta antirracista

Institucional

Na semana da consciência negra e no mês em que a Caritas completa 64 anos, Seminário provoca reflexões sobre a luta antirracista

Publicação: 20/11/2020




Em um contexto de crise, em que  frases como o “novo normal” são cada vez mais evidentes, é preciso atentar-se para qual construção de sociedade precisa ser evidenciada e fortalecida. 


“Os negros e negras são os protagonistas de um novo céu, de uma nova terra, na linguagem cristã, e que faz parte do sonho e desejo de todos os povos e nações.”, disse dom Zanoni Demettino Castro, arcebispo da diocese de Feira de Santana (BA) e referencial da Pastoral Afro-brasileira, durante o Seminário “Cáritas na Luta Antirracista”, promovido pela Cáritas Brasileira, na última terça-feira, 17 de novembro. 


Seminário Caritas contra o Racismo

O momento além de marcar a semana da Consciência Negra, integrou a programação dos 64 anos de história e caminhada da instituição ao lado daquelas e daqueles que mais precisam. 


“A Cáritas como uma organização atenta aos sinais da sociedade, não poderia ficar alheia a essa realidade, especialmente por ter no centro da sua missão as pessoas empobrecidas, que no Brasil, especialmente, tem cor e tem raça” afirma Cristina dos Anjos, assessora nacional da da Cáritas Brasileira para a área de migração e refúgio.


No Brasil, a maior parte da população se autodeclara preta ou parda. Dados do 2º trimestre de 2020, divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE, revelam que 55,49% dos brasileiros e brasileiras são negros. Além da maioria da população, é também o povo negro que mais sofre violência. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2020, revela que 75 7 das vítimas de homicídios no brasil são negras e que entre 2008 e 2018 a taxa de homicídio nesse grupo subiu 11,5%. Os números divulgados pelo Anuário, também revelam que entre 2018 e 2019 os registros de injúria racial cresceram 23,4% e os registros de racismos tiveram uma queda de 14%. Apesar dos dados, ainda há muito o que se avançar no país. 



Soraya Roberta Pereira, ativista do movimento negro e advogada, convidada para falar durante o seminário na mesa “Racismo Estrutural e as lutas antirracista na sociedade brasileira”.


"O racismo é estruturado, a partir de um sistema recorrente de processos de exclusão e opressão. Ele é mais que uma conduta, ele é uma técnica, ele é um sistema de opressão, de manutenção de privilégio de uma determinada elite, que para manter esse privilégio, esse poder, vai racializar os grupo e a partir disso usar de todas as estratégias, todos instrumentos, para manter esse poder e manter esse processo de exclusão.", explica a Soraya Roberta Pereira, ativista do movimento negro e advogada, convidada para falar durante o seminário na mesa “Racismo Estrutural e as lutas antirracista na sociedade brasileira”. Soraya trouxe conceitos sobre o racismo estrutural existente na sociedade, mas também alertou que é fundamental pensar as questões raciais para transformar a sociedade. 


O Seminário foi estruturado pelo Grupo de Trabalho e Estudos sobre Raça, Etnia e Luta da  Cáritas Brasileira, que se formou para promover na instituição debates e reflexões. O evento foi um momento importante para reafirmar o compromisso da rede em combater todas as formas de discriminação. 


“Nós queremos com esse seminário, mais uma vez, declarar que nós não aceitamos conviver com a prática do racismo.”, afirmou o diretor-executivo da Cáritas Brasileira, Carlos Humberto Campos, que acredita que a luta antirracista além de institucional deve ser individual; “É uma egigência da nossa fé, como compromisso de cidadania”, disse. 


A luta antirracista 


No Brasil, a luta antirracista é antiga e por isso é importante entender a história do país a partir da ótica dos povos originários, como explica Jacinta Maria Santos, do grupo Agentes Pastoral Negros (APNS): “A gente tem que começar a estudar a história do Brasil a partir da ótica do negro e do indigena, se a gente não faz essa volta, a gente não avança. E um povo que não sabe da sua história é muito fácil de ser enganado.”, afirmou. 



Durante a sua fala, Jacinta trouxe o histórico de embates que negras e negros tiveram e ainda precisam travar em diferentes espaços para romper com o racismo estrutural que existe. Além disso ela contou sobre a primeira luta antirracista que a negritude precisa travar, que parte  do reconhecimento da própria identidade. “ A gente cresce não se reconhecendo como negra e aí a gente tem que fazer um outro caminho para se assumir como negra, um caminho muitas vezes dolorido”, disse. Para ela é um passo importante que a Cáritas se some a luta antirracista, combata o racismo e também a intolerância religiosa. 


Ações de impacto contra o racismo e a desigualdade


Além de trazer para o debate as questões que envolvem o racismo estrutural e a luta antirracista, durante o Seminário também foi apresentadas duas ações que a Cáritas Brasileira tem promovido em volta desse tema. 


Desde 2019 a Cáritas desenvolve o projeto Conexão Negra, uma iniciativa do Ministério Público do Trabalho (MPT), por meio da ação da Procuradora Valdirene Assis, em parceria com a Cáritas Brasileira e apoio de outras instituições, como: o Pacto Global, ONU Mulheres, Associação Cultural Ilê Aiyê e Febraban. O Conexão busca prevenir e combater a discriminação racial nas relações de trabalho e valorizar a diversidade racial nos espaços empresariais, conectando jovens que estão estudando ou trabalhando nas áreas de direito, publicidade e epresarial à empresas.


"Esse projeto se propõe, não apenas em abrir oportunidade de trabalho, mas abrir oportunidades de carreiras em cargos de comando e gestão, e não apenas em função de base nesses setores econômicos", explica Andrea Perotti, assessora nacional da Cáritas Brasileira, responsável pela coordenação executiva do Conexão Negra e Canal Preto


A outra ação que tem o envolvimento da Cáritas Brasileira é o Canal Preto, plataforma de mídia que contribui na luta antirracista. O Canal Preto também é uma iniciativa do MPT e tem como linha de atuação raça, gênero e trabalho.


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