COLABORE

O conhecimento tradicional dos povos na compreensão das mudanças climáticas

Áreas de Atuação

Artigo recém-publicado exalta a relevância do conhecimento ecológico local de comunidades ribeirinhas da Amazônia ocidental.

Publicação: 16/03/2023


Resumo do ARTIGO: O conhecimento tradicional de comunidades ribeirinhas da Amazônia como importante aliado na compreensão dos impactos das mudanças climáticas


Por Mariana de Oliveira Estevo, Assessora Nacional da Cáritas Brasileira e especialista em Mudanças Climáticas, 

e grupo de pesquisadores: André Braga Junqueira, Victoria Reyes-García & João Vitor Campos-Silva



As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios à humanidade e seus impactos já são percebidos por todo o planeta. Na Amazônia, devido a extensão geográfica e grande diversidade cultural e biológica, a intensidade e o tipo de impactos das alterações climáticas nos meios de subsistência locais podem variar consideravelmente.


As mudanças relacionadas ao clima que ocorrem na Amazônia afetam os sistemas socioecológicos presentes nesse bioma, com impactos sobre os meios de subsistência locais, que dependem fortemente dos recursos naturais. Essas mudanças têm o potencial de afetar diretamente a segurança alimentar e nutricional das comunidades rurais amazônicas, devido aos impactos sobre as principais atividades de subsistência como a pesca, cultivo da mandioca e do açaí, extrativismo de ucuuba, muru-muru, andiroba, seringa, caça, manejo da fauna silvestre, entre outras.


Através de sua relação de longo prazo com os ambientes naturais, as comunidades rurais desenvolveram um conhecimento ecológico local detalhado que elas aplicam no uso e na gestão dos recursos naturais da região. Com base nesse conhecimento, elas também identificam alterações ecológicas sutis nestes ecossistemas onde vivem. Esse conhecimento as torna importantes aliadas na compreensão dos efeitos das mudanças climáticas e nos seus desdobramentos sobre as atividades de subsistência que estruturam seus modos de vida.


No estudo liderado por Mariana Estevo “Understanding Multidirectional Climate Change Impacts on Local Livelihoods through the Lens of Local Ecological Knowledge: A Study in Western Amazonia”, recém-publicado na Society & Natural Resources, um grupo de pesquisadores investigou os impactos das mudanças climáticas em diferentes atividades de subsistência na Amazônia ocidental, através das lentes do conhecimento ecológico local de seus habitantes.


Para isso, realizaram entrevistas com mais de 400 moradores de 24 comunidades espalhadas por um trecho de mais de 600 km do rio Juruá, e as perguntas norteadoras foram: i) Quais são as principais mudanças relacionadas ao clima relatadas pelas comunidades locais? ii) Quais são as atividades de subsistência mais impactadas pelo clima, particularmente pelos eventos extremos, de acordo com as comunidades locais? Iii) Como os impactos de eventos climáticos extremos variam entre as atividades de subsistência e os ambientes?


Os moradores relataram um vasto conjunto de mudanças, muitas se referindo a mudanças no sistema atmosférico (por exemplo, mais chuvas de verão), mas com efeitos em cascata nos sistemas físico, biológico e humano. Além de demonstrar os múltiplos e multidirecionais impactos das mudanças climáticas, as descobertas destacam a contribuição do conhecimento ecológico local na identificação de atividades de subsistência e cadeias de valor mais vulneráveis às mudanças climáticas.


Os impactos são complexos e podem afetar tanto negativa quanto positivamente as diferentes atividades. A produção de muru-muru e andiroba para extração de óleo vegetal, por exemplo, que são importantes cadeias de valor na região, são gravemente comprometidas com as grandes inundações do rio. Por outro lado, quando este fenômeno climático ocorre, a produção de açaí e de ucuuba, assim como a pesca, não são prejudicadas, e podem até mesmo se tornarem mais produtivas, sendo beneficiadas durante as grandes inundações.


Os autores do trabalho ressaltam a importância de incluir os detentores do conhecimento local na formulação de políticas e estratégias de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. São pessoas que foram historicamente relegadas aos espaços de tomada de decisão e, portanto, incluí-las é um passo na direção de maior justiça social. Além de possuírem conhecimentos ecológicos específicos, construídos pela convivência diária com o ambiente em que vivem, que são uma contribuição indispensável na elaboração de políticas para prevenir e mitigar os impactos da mudança climáticas em diferentes níveis.


Leia o artigo publicado na íntegra (em inglês) clicando aqui.

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