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Movimentos populares marcam presença na acolhida de Dom Mário Antônio como novo arcebispo de Cuiabá

Institucional

A celebração de posse canônica foi realizada em 1º de maio, Dia Mundial dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, na Catedral Bom Jesus.

Publicação: 09/05/2022


No primeiro dia do mês de maio de 2022, o então bispo de Roraima e atual presidente da Cáritas Brasileira, Dom Mário Antônio da Silva, tomou posse como arcebispo metropolitano de Cuiabá, no estado do Mato Grosso. A celebração foi realizada na Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus, com a bênção do arcebispo emérito Dom Milton dos Santos, de Dom Walmor de Oliveira, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), de Dom Joel Portella Amado, secretário-geral da CNBB, e dos bispos do regional Oeste 2.


Dom Mário Antônio da Silva e Dom Milton dos Santos


Natural do município de Itararé, no interior de São Paulo, Dom Mário Antônio deixa a Diocese de Roraima após quase seis anos à frente da Igreja naquele estado, para dar continuidade à sua missão de “testemunhar e servir”:


“A Cáritas Brasileira me colocou em contato desafiante com as causas do nosso povo no Brasil e também com as causas dos migrantes e refugiados, por meio de iniciativas em que pudemos acolher, proteger, promover e integrar muitos irmãos e irmãs vindos da Venezuela e de muitos locais da nossa América Latina e do mundo”, declarou Dom Mário. “Estando em Cuiabá, tenho o desejo enorme de colaborar com a Pastoral do Migrante, com a dimensão da Cáritas Brasileira aqui na região e com o serviço da caridade nesta Arquidiocese. O desafio é estar em contato com todas as pessoas e todas as comunidades, por isso espero a contempo estar nas paróquias, nas comunidades, convivendo com o nosso povo”.



Cleusa Alves, Dom Mário Antônio e Carlos Humberto Campos (Cáritas Brasileira)


Na avaliação de Cleusa Alves, vice-presidenta da Cáritas Brasileira, presente à celebração, “foi um momento muito rico, muito especial, de celebrar uma igreja em saída, uma igreja comprometida com a vida, com a defesa dos povos, principalmente dos mais excluídos”. Para ela e tantos fiéis, “Dom Mário é um pastor com cheiro de ovelhas”.


Carlos Humberto Campos, diretor da organização, também compareceu à ocasião: “foi um grande presente para a Cáritas estar aqui com Dom Mário, não só em apoiá-lo, mas também em conviver nesse momento tão especial, celebrativo, de comunhão, de partilha e de muito aprendizado, Dom Mário é um profeta, traz na sua identidade a vida do nosso povo”.


Movimentos da cidade, do campo, das florestas e das águas




A acolhida do novo arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Cuiabá/MT foi um evento marcado pela presença das diferentes forças eclesiais e sociais atuantes nessa região, incluindo os movimentos populares da cidade, do campo, das florestas e das águas.


“Viemos prestigiar o nosso novo arcebispo Dom Mário Antônio e agradecer ao Dom Milton dos Santos pela força que ele sempre deu para a nossa tribo”, revelou Rosália Gomes Barbosa, indígena da etnia Anhanbiquara, de Jauru/MT, que trouxe consigo incenso para reverberar boas energias.



Rosália Gomes Barbosa e Ailton Águia da Noite (Lideranças Anhanbiquara - Jauru/MT)


Gilberto Vieira dos Santos, coordenador regional do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) em Mato Grosso, também esteve presente na companhia de Rosália e Ailton Águia da Noite, também da etnia Anhanbiquara, além de Dom Roque Paloschi, presidente do CIMI e arcebispo de Porto Velho/RO: “Dom Mário tem essa sintonia com a causa indígena a partir de Roraima, acompanha as lutas populares, então viemos aqui acolher e nos somar a essa nova etapa de sua missão”.



Dom Mário Antônio e Gilberto Vieira dos Santos (CIMI)


Vanessa Ribeiro de Jesus, militante do Movimento Sem Terra (MST) do Estado do Mato Grosso, se deslocou com sua família até Cuiabá para representar o Assentamento 14 de Agosto, no município de Campo Verde: “O nosso movimento trouxe produtos agroecológicos da reforma agrária em uma cesta bem bonita, com itens como abóbora, mandioca, mamão, cheiro verde, como forma de agradecimento ao Dom Milton, que plantou a semente, e o acolhimento de Dom Mário Antônio, que está vindo para a nossa cidade colher os frutos dessa semente plantada por ele”.





A recepção do novo arcebispo de Cuiabá contou ainda com a presença de representantes de comunidades ribeirinhas, militantes da Economia Popular Solidária da região, dançarinas de Cururu e Siriri e tocador de viola-de-cocho, bem como representante da comunidade haitiana do município.

 

Além dos grupos regionais, a posse canônica trouxe ao coração do Brasil os fiéis seguidores de Dom Mário Antônio lá de Roraima, na companhia do reverendo Padre Lúcio Nicoletto,  atual presidente da Cáritas Diocesana de Roraima e administrador Diocesano.


“Caminhamos juntos por cinco anos e meio e nos sentimos pastoreados por um homem de Deus, totalmente dedicado à vida de seu povo”, refletiu Padre Lúcio. “Durante as vicissitudes da migração do povo venezuelano e diante das dores e lutas dos povos indígenas, e dos grandes problemas sociais e ambientais criados pela ganância e pelos interesses particulares, Dom Mário sempre nos provocou para uma evangelização que fosse, principalmente, anúncio profético da presença do Reino ao lado dos mais esquecidos. É essa a força que nos sustentou nos momentos mais difíceis, é essa a página do evangelho mais eloquente que queremos pregar, pois essa é ao mesmo tempo nossa profissão de fé, que carregamos para sempre como legado para o nosso caminho de Igreja sinodal”.



Padre Lúcio Nicoletto (Cáritas Diocesana de Roraima)


Mensagem ao Povo Brasileiro


O clima de acolhida, de abertura e de alegria que permeou toda a celebração também incluiu a reflexão da Mensagem ao Povo Brasileiro da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).


Ao final de sua pregação, Dom Mário fez a leitura da carta e abraçou as reflexões como compromisso e desafio a ser enfrentado não apenas por ele, mas por toda a Igreja. “Em um gesto muito humano, muito fraterno e de simplicidade, pede a oração e a ajuda das pessoas, para que ele possa cumprir com fidelidade a sua missão”, descreve Cleusa Alves.


O texto apresenta “uma mensagem de fé, esperança e corajoso compromisso com a vida e o Brasil”. No documento, os bispos lembraram da solidariedade para a superação da pandemia, agradeceram às famílias e agentes educativos pelo cuidado no campo da educação, saudaram a dedicação incansável dos profissionais de saúde, defenderam o Sistema Único de Saúde (SUS), a ciência e a vacinação.


Se posicionaram contra o negacionismo, a manipulação religiosa, a disseminação de fake news, as violações dos direitos dos povos indígenas, quilombolas e ribeirinhos, a perseguição e criminalização de líderes socioambientais, bem como a flexibilização da posse e do porte de armas, o feminicídio e a repulsa aos pobres.


Dedicaram reflexões sobre a complexa e sistêmica crise ética, econômica, social e política enfrentada no país, cujo quadro atual “é gravíssimo”. Para os bispos, “o Brasil não vai bem!”.


Leia a Mensagem ao Povo Brasileiro na íntegra.



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