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Liberdades não alcançadas

Geral

Neste dia 13 de maio, em live, a Cáritas Brasileira promove reflexões sobre o Dia da Abolição da Escravatura.

Publicação: 13/05/2021


"Não basta não ser racista, precisamos ser antirracista.” Esta é uma famosa frase da filósofa, escritora, professora e ativista estadunidense Angela Davis. Ela fez parte dos Panteras Negras, partido político, fundado nos anos 1960, que promovia a resistência do povo negro contra a opressão violenta e desumana naquele país. O significado da sentença de Davis é fundamental, complexo e expõe a necessidade de ser ativo na luta contra o racismo, de forma constante e permanente.

A frase de Angela foi usada em 2019 numa reação do jogador de futebol, Taison, diante de ataques racistas que sofreu num campeonato ucraniano. “‘Amo minha raça, luto pela cor, o que quer que eu faça é por nós, por amor… Jamais irei me calar diante de um ato tão desumano e desprezível! Minhas lágrimas foram de indignação, de repúdio e de impotência (...)! Mas somos ensinados desde muito cedo a sermos fortes e a lutar! Lutar pelos nossos direitos e por igualdade! Em uma sociedade racista, ‘não basta não ser racista, precisamos ser antirracista!’”, declarou o jogador na época, citando também um verso dos Racionais MC´s.

A frase também se conecta à história de Romeu Cardoso, conhecido como Nequinha, morador do Brejo dos Crioulos, uma comunidade quilombola rural situada entre os municípios de São João da Ponte e Varzelândia, no Norte de Minas Gerais, região do Semiárido mineiro. De lá, nos anos 1970, Nequinha foi levado de caminhão “pau-de-arara”, sob a promessa de trabalho na Amazônia. Foi ameaçado por jagunços, transportado dentro de lonas, espancado, alimentado com comida de porcos e explorado no Pará por dois meses, “limpando” a floresta para o caminho agrário, até ser libertado. Ele tinha 11 anos.

Angela nos Estados Unidos, Taison na Ucrânia e Nequinha no Brasil, das convivências nas cidades ou no campo, de várias épocas, representam negras e negros que sofreram ou sofrem com situações racistas. Um racismo que afasta o povo negro de forma estrutural, em especial as mulheres negras, dos espaços de poder, da educação, das oportunidades e das próprias referências estéticas e culturais.

No nosso país, “não racista” desde o dia 13 de maio de 1888, sempre foi urgente a luta antirracista. A Cáritas Brasileira, a partir das reflexões do seu grupo de trabalho da Luta Antirracista, promove o evento ao vivo "13 de Maio: A Liberdade não Alcançada". A transmissão será mediada por Samuel Silva, integrante do GT pela Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais. “Nessa semana, estamos fazendo memória da lei Áurea, que formalmente aboliu a escravidão. Mas, de fato, deixou muito a desejar. E isso vem tendo uma consequência bastante danosa para o povo negro, porque libertou e abandonou à própria sorte uma grande parcela da população em uma sociedade até hoje marcada pelo racismo e a desigualdade social. Essa contribuição da Cáritas no debate vem se somar a tantas outras vozes nessa luta!”, explicou Samuel.

Neste evento, são convidadas a professora da Universidade Federal do Piauí, Sueli Rodrigues, e a representante do território quilombola de Abacatal no Pará, Vanuza Cardoso.

Vanuza, mulher negra e feminista, reitera que a luta antirracista sempre foi intensa, em especial para as mulheres. Segundo ela, “as nossas relações sempre foram pautadas a partir de um lugar social e racial e isso é o que gera e sustenta toda a desigualdade''. E vai além: “do meu lugar de fala enquanto mulher, negra, quilombola, mãe, avó, é muito desafio! Não enfrento só a questão da raça, mas [também] a do gênero, por ser mulher, e de classe, por ser de classe baixa. Aí fica mais difícil lutar contra essa sociedade racista, preconceituosa e de diversos outros adjetivos."

Para a paraense, a oportunidade de se pautar “as liberdades não alcançadas” é muito boa, “pois o importante [para o povo negro] não foi o 13 de maio, não foi a lei Áurea da abolição, ou a suposta abolição ou a encenação de abolição. O importante pra nós foi o dia 14 de maio [os dias seguintes]... que os meus iguais, homens e mulheres negras ditas livres, estavam sem casa, sem documento, sem roupas, sem sandálias, sem alimento - para eles e para as suas famílias. Isso foi desafiador, foi intenso - e foi sempre assim.”

O desafio que Vanuza evidencia em suas palavras é o de reconhecer a história; é o de assumir a violência empregada pela institucionalidade brasileira na exploração e na discriminação dos negros e negras.

Para tanto, a professora Sueli Rodrigues é precisa quando questionada sobre a estratégia chave que pode construir um caminho de luta antirracista. “Eu penso que a gente tem que lutar para que o Estado brasileiro reconheça que as pessoas negras são iguais pertencentes ao pacto de nação e, para isso, só tem uma medida, que é a reparação da escravidão negra. Eu tenho insistido muito que não tem nada mais grave do que a escravização negra. Ela cola na pele da pessoa. E os resultados aparecem na forma de racismo.” Para Sueli, seria preciso um modelo de justiça de transição que evidenciasse, dentre outros aspectos, “a mudança da memória coletiva nacional para que as pessoas negras e indígenas sejam reconhecidas pelo seu protagonismo na construção da história desse país.”

Para refletir sobre esses aspectos, o evento "13 de Maio: A Liberdade não Alcançada" será transmitido às 18h30 pelo Facebook e pelo Youtube da Cáritas Brasileira e também pelos canais de alguns escritórios regionais. Confira a arte do evento:


Card do evento
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