Mesa de abertura
Na última quarta-feira (23) foi lançada a 39ª edição do caderno “Conflitos no Campo Brasil” da Comissão Pastoral da Terra (CPT), retratando os dados ainda alarmantes O evento aconteceu na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília. A atividade contou com a participação de organizações, representantes governamentais, pessoas afetadas pela violência no campo, e outros participantes.
Durante a mística de abertura do lançamento, o Papa Francisco, que morreu na última segunda-feira (21), foi lembrado com a sua famosa frase, dita durante sua participação no primeiro encontro mundial dos Movimentos Populares, promovido pelo Conselho Pontifício Justiça e Paz (Santa Sé), em colaboração com a Academia Pontifícia das Ciências Sociais: "Digamos juntos, de coração: nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhuma pessoa sem a dignidade que o trabalho dá.”
Segundo dados apurados pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduino (Cedoc), os conflitos no campo diminuíram cerca de 3%. No ano de 2023 foram registrados cerca de 2.250 casos de violência no campo, já em 2024 esse número caiu para 2.185.
Maria Petronila, coordenadora nacional da CPT - Mística inicial
O Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, se fez presente no lançamento. “Foram 47 mortes por violências no campo em 2022, e esse ano são 13. Esse número não nos contenta. O único número que pode nos contentar é zero, quando nenhuma pessoa morrer por conflitos de terra no Brasil, e por isso há um intenso trabalho de mediação de conflitos, assim como um grande trabalho de reforma agrária”, disse.
Desde que a CPT começou a levantar dados sobre os conflitos no campo, o ano de 2023 é o que apresenta um número recorde de violências, e apesar da pequena porcentagem de queda no levantamento dos dados de 2024, o ano passado ainda apresenta o 2º maior número de conflitos.
Ministro Paulo Teixeira e Claudia Maria Dadico, Ouvidora Agrária do Ministério do Desenvolvimento Agrário
Além de mostrar números e dados alarmantes de conflitos, os participantes de acampamentos e territórios campesinos mostraram suas lutas e algumas estratégias que são definidas junto à CPT para evitarem tais violências.
Os maiores índices de violências, abusos e conflitos em terra, no ano de 2024, foram no estado do Maranhão, com cerca de 360 ocorrências registradas, seguido pelos estados do Pará, com 234 registros, Bahia, com 135, e Rondônia, com 119.
Já os números de conflitos pela água são maiores no estado do Pará, com 65 ocorrências, seguido pelo Maranhão, com 45, Minas Gerais, com 30, e Bahia, com 22. Os dados representam o 3º maior número em 5 anos, e comparados aos números de 2023, tiveram um aumento de 16%.
Mais um dado alarmante são os números de trabalhadores e trabalhadoras que ainda vivem em situação de escravidão. No ano de 2024 foram registrados 151 casos e mais de 1600 pessoas foram resgatadas.
Izabel das Evas, participante e vítima da violência no campo
Comissão Pastoral da Terra
A Comissão Pastoral da Terra foi criada em junho de 1975, nos anos da ditadura militar. O nascimento da CPT foi uma resposta à grave situação vivida pelos trabalhadores e pelas trabalhadoras rurais, sobretudo em território amazônico, sendo explorados e exploradas em seu trabalho, expostos/as e submetidos/as a situações de trabalho escravo, e que eram obrigados a sair das terras em que habitavam. A CPT acredita na autonomia dos povos. São eles que definem os rumos a seguir, seus objetivos e metas, sendo protagonistas de suas próprias histórias
Acesse aqui o relatório completo da CPT
Com informações da CPT Nacional