COLABORE

Igreja de escuta e diálogo: a expressão da sinodalidade nos clamores do povo

Igreja

Artigo de Cristina dos Anjos, assessora nacional da Cáritas Brasileira, expressa importância da participação no Sínodo dos Bispos 2023.

Publicação: 01/09/2023


Por Cristina dos Anjos


 (...) todos somos chamados a participar na vida da Igreja e na sua missão. 

Se falta uma participação real de todo o Povo de Deus, 

os discursos sobre a comunhão correm o risco de permanecer pelas intenções. - Papa Francisco

 







Com alegria, honra e responsabilidade, acolhi o chamado do Papa Francisco para participar da 16ª Assembleia Geral do Sínodo, sendo uma das duas mulheres brasileiras e das 42 que comporão as 70 testemunhas do processo sinodal, a nível mundial, com direito a voz e voto.


Com o tema "Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, estaremos, de 4 a 29 de outubro, confiando na ação do espírito, para nos guiar no processo de construção coletiva de uma Igreja que atenda os clamores do Povo de Deus.


Em outubro de 2021, no discurso de abertura do Sínodo, o Papa Francisco nos convidou a viver essa experiência como uma ocasião de encontro, escuta e reflexão. Segundo ele, o Sínodo somente será fecundo se tornar a expressão viva do Ser Igreja em um tempo de grandes desafios sinodais. Como comunicar eficazmente o projeto de Jesus Cristo em uma sociedade marcada pela cobiça, individualismo, preconceitos e ausência de compaixão e sororidade?  


Da abertura do sínodo até aqui, tivemos a oportunidade de vivenciar um rico processo de escuta e reflexão. Somos uma igreja diversa, como também é diverso o jeito de acolher o sínodo.


A participação das mulheres neste sínodo, que ao longo da história estiveram como ouvintes, conselheiras ou especialistas, toma um outro caráter! É desejo deste pontificado que as mulheres possam falar, ser escutadas e também votar. Ao longo desses 10 anos, o Papa Francisco tem nomeado mulheres, leigas e religiosas, a importantes postos no Vaticano, demonstrando desde sempre o seu posicionamento sobre a participação feminina na Igreja.


Como mulher, negra e leiga, o meu lugar de fala decorre dos espaços de vivência e fortalecimento da dimensão social da evangelização, a partir da Cáritas Brasileira e Latino-Americana, e na caminhada com as pastorais sociais e demais organismos. Nesse sentido, me integro à delegação brasileira e latino-americana, com esse olhar específico da minha identidade, mas também desse lugar comunitário, a partir do qual vivencio a minha fé.


Levo comigo outros tantos clamores; das mulheres, especialmente as mulheres negras, das pessoas indígenas, migrantes, pescadoras, ribeirinhas, das pessoas em situação de rua, catadoras, das juventudes, da comunidade LGBTQI+. Ser Igreja na realidade atual é acolher com radicalidade esses sujeitos que nos desafiam a enxergar o rosto de Jesus Cristo em cada um deles. A esperança que permeia esse evento é que a Igreja possa buscar, cada vez mais, assumir um compromisso cristão e sempre na perspectiva do bem comum e daquelas e daqueles mais empobrecidos e injustiçados.


Não é possível, ainda, ter a real dimensão dos desafios e oportunidades desta participação no Sínodo. No entanto, me sinto impulsionada pelas palavras finais do Papa Francisco, no seu discurso de abertura do sínodo, desejando que “este Sínodo seja um tempo habitado pelo Espírito! Pois é do Espírito que precisamos, da respiração sempre nova de Deus, que liberta de todo o fechamento, reanima o que está morto, solta as correntes e espalha a alegria(...)”.


Que possamos viver intensamente esta bonita, importante e desafiadora experiência, acreditando que o espírito feminino de Deus, Ruah, estará conosco e em nós!




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