Entre os meses de abril e maio de 2025, o projeto Amazônia Bem Viver: Comunidades Resilientes, realizado pela Cáritas Brasileira em parceria com a Cáritas Alemanha e financiamento do governo alemão participou de agendas fundamentais em defesa dos direitos humanos, da justiça ambiental e da autonomia dos povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia.
A primeira delas foi a participação no Acampamento Terra Livre (ATL) 2025, realizado entre os dias 7 e 11 de abril, em Brasília (DF). O evento celebrou os 20 anos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e reuniu mais de seis mil indígenas, de mais de 200 povos de todas as regiões do país, sob o lema: “APIB somos todos nós: nosso futuro não está à venda!”. Representando a Cáritas, a assessora técnica regional Isadora Menezes, integrou as atividades, promovendo escutas com comunidades, fortalecendo articulações institucionais e colaborando nos espaços de debate político.
Durante o ATL, pautas urgentes foram destacadas, como a demarcação de terras, a proteção dos territórios frente à mineração e ao agronegócio, o acesso à saúde e educação contextualizada, e a segurança para lideranças indígenas ameaçadas. “Além do seu caráter político, o ATL reafirmou-se como um espaço essencial de troca de saberes entre os povos, onde a cultura, os cantos, os rituais, as línguas e os conhecimentos tradicionais se manifestaram de forma viva e coletiva”, destacou Isadora.
A presença da Cáritas nesse espaço reforça seu compromisso histórico com os povos indígenas, baseado na escuta qualificada, no apoio às denúncias de violações e na incidência em defesa dos direitos. Em Brasília, a assessora ainda participou de agendas com o Conselho Nacional de Direitos Humanos e com representante do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH), acompanhando as demandas dos povos Kujubim, Migueleno, Puruborá e Kokama, em articulação com a conselheira indígena Nita Tuxá.
Agenda com comunidades indígenas em Porto Velho
No dia 19 de abril, em alusão ao Dia dos Povos Indígenas, a Cáritas esteve junto às comunidades Cassupá e Salamakã, em Porto Velho (RO), para a realização da primeira atividade comunitária construída coletivamente no território. O encontro teve como foco o fortalecimento da identidade e da memória do povo, com relatos dos anciãos sobre o deslocamento forçado e os desafios enfrentados em contexto urbano. Durante a ação também foi socializada a proposta de construção do Mapa da Vida — uma ferramenta de planejamento participativo que visa fortalecer a autogestão e a construção de soluções comunitárias.
Lançamento do Caderno de Conflitos no Campo 2024 da CPT
Encerrando esse ciclo de atividades, no dia 9 de maio, a Cáritas participou do lançamento do Caderno de Conflitos no Campo 2024, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), realizado no Ministério Público do Trabalho de Rondônia e Acre. O relatório sistematiza dados sobre conflitos agrários, violência no campo, ameaças ambientais e processos de resistência. A publicação também abordou os impactos previstos de grandes empreendimentos, como a hidrovia do rio Madeira e a ponte internacional Brasil-Bolívia.
“O caderno é uma ferramenta ética e pedagógica, que não apenas denuncia, mas também fortalece o protagonismo das lideranças comunitárias, oferecendo dados seguros para embasar suas lutas por justiça e reconhecimento”, explicou Isadora Menezes. O evento contou com a participação de representantes da Defensoria Pública, universidades, movimentos sociais e lideranças indígenas e camponesas que relataram vivências e ameaças em seus territórios.
Reunião com o CIMI
Ainda no dia (9 de maio), a Cáritas Brasileira, por meio do projeto Amazônia Bem Viver, participou de uma reunião institucional com o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), com o objetivo de fortalecer a articulação entre as organizações frente às graves violações de direitos que vêm sendo denunciadas por diversos povos indígenas em seus territórios.
O encontro foi marcado pelas situações enfrentadas pelos povos dos territórios de Guajará-Mirim (RO), que relataram impactos de grandes empreendimentos, destruição ambiental, contaminação por agrotóxicos e omissão do poder público e violações de direitos coletivos.
A reunião teve como foco o alinhamento de estratégias conjuntas de incidência e proteção, a partir de uma perspectiva de complementaridade entre as ações do CIMI e da Cáritas. Ambas as instituições reafirmaram o compromisso com a defesa dos territórios tradicionais, a promoção da justiça socioambiental e o fortalecimento das vozes indígenas na construção de políticas públicas que respeitem seus modos de vida e autodeterminação.
Essas três frentes de atuação — articulação nacional, fortalecimento comunitário e produção de conhecimento — refletem a missão do projeto Amazônia Bem Viver: Comunidades Resilientes; apoiar povos indígenas e comunidades tradicionais na proteção de seus territórios, no enfrentamento às mudanças climáticas e na conservação da biodiversidade amazônica, a partir de processos enraizados na escuta, no diálogo e na solidariedade.
Compromisso com a Proteção da Amazônia
A Cáritas Brasileira tem uma trajetória de atuação junto aos povos e comunidades tradicionais, reconhecendo suas potências e reafirmando o compromisso com o Bem Viver. Em parceria com a Cáritas Colômbia, Cáritas Peru, CEAS e Cáritas Alemanha, o projeto Amazônia Bem Viver apoia comunidades indígenas e tradicionais na proteção de seus territórios, no enfrentamento às mudanças climáticas e na conservação da biodiversidade.
No Brasil, o projeto é realizado pela Cáritas Brasileira em colaboração com a Cáritas Alemanha e conta com financiamento do Ministério Federal de Cooperação e Desenvolvimento Econômico do Governo Alemão.