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Cáritas Brasileira inicia segunda etapa do ‘Projeto Orinoco’ nas cidades de Boa Vista e Pacaraima

Projetos

Projeto financiado pela USAID atende migrantes venezuelanos com água, saneamento e higiene, em Roraima

Publicação: 17/11/2020


Por Emmily Melo e Indi Gouveia 

Foto: Emmily Melo


“Migrante, venezuelana, mãe de três filhos, moro no Brasil há quase três anos. Tem muitas agências que fazem um trabalho para beneficiar os migrantes, mas a Cáritas não é só atendimento, é uma casa para as pessoas”, disse Alejandra Milagros, educadora no Projeto Orinoco. Alejandra, assim como milhares de outras pessoas, saiu da Venezuela e veio para o Brasil em busca de outras oportunidades. Ela é uma das colaboradoras da Cáritas Brasileira, que contribui na construção de uma sociedade do Bem Viver em Roraima. 

Alejandra se soma a outras 36 pessoas que constroem o Projeto Orinoco: águas que atravessam fronteiras, uma ação da Cáritas Brasileira, em parceria com a Cáritas Diocesana de Roraima, financiado pela BHA/USAID. 

Desde 2019, o projeto, com foco em ação de WASH, promove a migrantes e refugiados venezuelanos, em situação de rua, acesso à água, saneamento e higiene. O termo WASH deriva das palavras em inglês water (água), sanitation (saneamento) e hygiene (higiene).


Palavra em inglês, “wash” também significa “lavar”. As ações voltadas a esse tema buscam promover acesso à água, saneamento e higiene.

Palavra em inglês, “wash” também significa “lavar”. As ações voltadas a esse tema buscam promover acesso à água, saneamento e higiene. Foto: Adriana Duarte

Contexto migratório no Brasil 

Nos últimos quatro anos, a crise socioeconômica e política na Venezuela levou mais de 5 milhões de pessoas a migrarem  a outros países, especialmente, na América Latina. Dados da Plataforma de Resposta a Venezuelanos e Venezuelanas, atualizados em 30 de agosto, mostram que o Brasil abriga, hoje, 262.475 migrantes legais, dos quais 102.504 estão à procura de asilo e 148.782 já conseguiram visto permanente ou temporário. 


Muitos dos migrantes recém-chegados no Brasil não têm para onde ir. Ao deixar a  Venezuela e sem emprego, centenas deles acabam em situação de vulnerabilidade e se abrigando nas ruas. 

Em Boa Vista, capital de Roraima, o número de venezuelanos desabrigados, entre homens, mulheres e crianças, chega a 1,8 mil. Já em Pacaraima, na fronteira com o país vizinho, a estimativa é de 1,3 mil. A estatística, publicada em outubro, é da Organização Internacional de Migrações (OIM).



Diagnóstico: realidade de Boa Vista e Pacaraima

As ações do Orinoco partem de um diagnóstico da situação de migrantes em situação de vulnerabilidade que chegam e estão em Roraima.

Durante as primeiras semanas de execução da segunda etapa do projeto, entre os meses de outubro e novembro, a equipe percorreu pontos estratégicos das duas cidades em que o Orinoco tem sido desenvolvido. 

Com base em entrevistas feitas com o público alvo do projeto, foi diagnosticado dois perfis de migrantes presentes em Boa Vista e em Pacaraima. 

O perfil mais encontrado na capital de Roraima são de migrantes desalojados. Já na cidade que faz fronteira com a Venezuela, o perfil mais presente são migrantes que passaram pelos caminhos entre as fronteiras e ainda não possuem documentação. 

"Essas pessoas migrantes tem morado em aluguéis em condições muito precárias, muitas vezes comendo apenas uma vez por dias, outras estão voltando a dormir nas ruas por não ter condições de pagar uma moradia", explica Wellthon Leal, assessor de monitoramento do projeto Orinoco.


Orinoco: águas que atravessam fronteiras

A partir desse contexto de emergência, o Projeto Orinoco começou a realizar suas ações em Boa Vista e em Pacaraima. As instalações do projeto foram construídas em espaços cedidos pelas igrejas católicas e contam com água de poço artesiano para utilização de chuveiros e sanitários e sistema energia solar. Os bebedouros são abastecidos pela concessionária estadual de água e toda a água consumida é monitorada para garantir o padrão de potabilidade.

“Nós construímos estruturas físicas em ambientes religiosos que historicamente possuem ação social e, até certo ponto, autossuficientes, pois contam com água de poço e energia solar. Dessa forma, uma vez que o Projeto Orinoco se encerre, e a situação migratória minimize, a igreja poderá dar seguimento atendendo pessoas em situação de vulnerabilidade com todos os serviços que hoje são prestados pela Cáritas”, informou o coordenador local de emergências, Raphael Macieira. 

Na primeira etapa, o projeto construiu fraldários, chuveiros, sanitários e instalou bebedouro industrial em quatro igrejas católicas. Realizou melhorias nas condições de saneamento e água em ocupações espontâneas e distribuiu kits de higiene. Além disso, Orinoco construiu lavanderias nas duas cidades assistidas. 

“A lavanderia ocupa um local de destaque, pois com o nossos dois complexos [Boa Vista e Pacaraima] pode-se pensar, futuramente, num processo de autogestão que permita comunidade e igreja a utilização do serviço como forma de obtenção de recursos para outras atividades ou até mesmo para manter os banheiros (com limpeza, insumos, etc)”, destacou Raphael. 



Foto: Emmily Melo

Segunda etapa do projeto

Agora, principalmente em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), dados de várias fontes indicavam a necessidade da continuidade do programa relacionado a WASH. Nesta perspectiva, a Cáritas Brasileira, com o financiamento da USAID, promove a segunda etapa do projeto, com a ampliação das ações 

“Com a Covid-19 ficou ainda mais evidente a importância de projetos na área de WASH como o Orinoco. Aliado à falta de infraestrutura no estado de Roraima para receber os/as migrantes e ao sucesso da parceria com a USAID, a Cáritas, com apoio da Catholic Relief Services (CRS), apresentou a segunda etapa do projeto”, comentou a coordenadora nacional do Projeto Orinoco Cristina Luttner. 

A segunda etapa do Orinoco deve atender as necessidades urgentes de 6.554 migrantes em ao menos 14 ocupações espontâneas, na capital e fronteira; construir uma nova lavanderia, uma nova instalação na rodoviária de Boa Vista e, também, garantir a manutenção do funcionamento das instalações já construídas na primeira fase. 

 “Ainda estamos em um cenário incerto, sem definição de quando a fronteira será reaberta [a fronteira do Brasil com a Venezuela está fechada por decreto brasileiro desde março de 2020]. Mas esperamos apoio dos parceiros para que as ações possam ser implantadas de forma a melhorar a qualidade de vida e levar dignidade aos migrantes que se encontram em situações mais vulneráveis”, afirmou Cristina.

A ajudante de eletrônico Rosmary Espinoza, de 39 anos, é uma das beneficiárias do Projeto Orinoco. Em busca de uma nova vida, ela saiu de Ciudad Bolívar, no Sudeste da Venezuela, e percorreu 814 km até a capital de Roraima. Ela conta que a ação da Cáritas Brasileira foi “um grande apoio” para que conseguisse permanecer na cidade. 


Foto: Emmily Melo

“Eu vim pela insegurança, falta de trabalho, falta de comida e de médico. Vim para ajudar a minha família. O Projeto Orinoco ajuda a nós migrantes a ter acesso a higiene. Lavanderia, banheiros e chuveiros... É um grande apoio que nós temos”, conta a migrante que utiliza os serviços do projeto desde o começo do ano.  

Atualmente, o  projeto Orinoco está com duas instalações de WASH em funcionamento. Uma localizada nas dependências da Igreja Nossa Senhora da Consolata, no bairro São Vicente, zona Sul de Boa Vista, e outra no Centro de Capacitação e Referência, no bairro Vila Nova, município de Pacaraima. As duas unidades atendem de 8h às 12h e de 13h às 17h, de segunda à sexta-feira. 



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