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Cáritas Brasileira aposta na Economia Popular Solidária como meio de transformação social

Áreas de Atuação

Uma das principais autoras, a instituição tem presença histórica nacional na articulação da Economia Popular Solidária

Publicação: 03/12/2019



Participantes do debate sobre Economia Popular Solidária, em Santa Maria (RS) - Foto: Arquivo Cáritas Brasileira


A Cáritas Brasileira enquanto uma instituição que se preocupa com projetos e ações transformadoras e na mudança das estruturas sociais, políticas, econômicas e ambientais, sempre apostou na Economia Popular Solidária como meio emancipador visando uma sociedade que não haja excluídos. Mas, o que seria uma economia solidária?

A economia solidária é estratégia de desenvolvimento sustentável, que mostra por um outro ângulo, uma forma alternativa de produzir, consumir, vender, trocar e comprar. É um meio de buscar que a riqueza produzida no trabalho seja compartilhada de forma que todos tenham qualidade de vida. A economia solidária tem uma diversidade de práticas econômicas e sociais que podem ser organizadas sob a forma de cooperativas, empresas autogestionárias, redes de cooperação, etc, que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário.

Com seus 63 anos, a Cáritas Brasileira é uma das principais autoras nesse âmbito, que é considerado uma área de atuação dentro da instituição, a área da Economia Popular Solidária (EPS). A ênfase no ‘popular’ é importante porque é o principal caráter na forma de se fazer essa economia. É um meio que cabe ao povo, está diretamente ligado a classe social, a dimensão cultural do saber popular, do modo de ser e de viver do povo. 

Nesse método de produzir e consumir, entende-se que a economia é parte integrante de uma sociedade, ou seja, ela não é mais ou menos importante  que outras áreas da vida social. Está ligada com o meio ambiente,  com a cultura e com o modo de ser social. Roberto Marinho Alves da Silva, economista especializado em desenvolvimento sustentável, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), diz que “a economia solidária busca resgatar equilíbrio entre economia como meio e não como fim, e com outras dimensões da vida”.

O conceito de economia solidária não é novo. Na verdade, está presente desde a formação da humanidade, quando o ser humano percebeu que era mais vantajoso viver em grupos, colaborando entre si, do que isolado. Povos originários e tradicionais do mundo todo já se utilizaram dessa estratégia de trabalho associado a reciprocidade e autogestão.

O objetivo da Cáritas ao apostar nesta iniciativa por tantos anos é principalmente o trabalho com a inclusão social e cidadã de todos que estão à margem da sociedade sem emprego formal, oferecendo a essas pessoas, por meio da economia solidária, maneiras de estabelecer a principal fonte de renda para a sobrevivência com dignidade e cidadania.


Grupos de Economia Popular Solidária reunidos em Santa Maria, no Rio Grande do Sul - Foto: Arquivo Cáritas Brasileira


“A economia solidária, na Cáritas Brasileira, tem pautado a inclusão e a organização das mulheres em vulnerabilidade social, haja visto que a maioria dos empreendimentos é liderado e constituído pelo coletivo de mulheres”, destacou Marcela Vieira, assessora nacional de Economia Popular Solidária da Cáritas Brasileira. O apoio a comunidades tradicionais como indígenas, quilombolas e ribeirinhas, além da rede de catadores e catadoras também são o foco da rede Cáritas. “A economia solidária tem desenhado um novo rumo de desenvolvimento através do envolvimento e comprometimento das pessoas em seu território, na valorização da sua identidade e do seu saber, com os princípios solidários e cooperativos viabilizando a geração de renda, mas principalmente a valorização do ser humano na sua centralidade”, concluiu.

“Este é um projeto de vida e de inclusão social e que forma uma grande Teia no Brasil, ou seja, a rede de Economia Solidária permanente em todos os Estados Brasileiros”, disse a Vice-presidente da Cáritas Brasileira, Irmã Lourdes Dill. “Faz parte dos principais eixos de atuação do trabalho de Cáritas no Brasil e que visa cada vez mais o fortalecimento de Rede a nível Nacional. A meta é não dar o peixe, mas ensinar a pescar”, concluiu.

Ainda segundo a vice-presidente, a Cáritas é protagonista nesse meio a partir dos Projetos Alternativos Comunitários (PACs) que se iniciaram nos anos 80 no Rio Grande do Sul, a partir das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) que, nessa época, buscavam concretizar na prática, o sonho da vivência da cooperação, da solidariedade e da partilha. Nesse contexto, nas áreas rurais e urbanas surgiram inúmeras iniciativas comunitárias em diferentes áreas de atuação/produção. Nas cidades, surgiram experiências com grupos de artesanato, fornos, saúde alternativa, hortas, etc. No campo, apareceram grupos de cooperação agrícola atuando em diversas frentes de produção. A partir desse movimento, que em 1984, que os PACs começaram.

A professora e Vice-diretora do CDT Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Universidade de Brasília (UnB), que também é militante e pesquisadora no campo da economia solidária, Sônia Marise Salles Carvalho, afirmou que “de 2002 até 2019 nós vimos um fortalecimento das bases dos movimentos sociais no campo da proposta dessa outra economia, outra perspectiva de vida, do bem viver, e ao mesmo tempo o reagrupamento desses atores que apostam no modelo de sociedade em que haja inclusão social”. 

A Cáritas Brasileira também contribuiu na criação de políticas públicas no âmbito da economia solidária através da antiga Secretaria de Nacional de Economia Solidária (SENAES) que hoje é apenas um departamento do Ministério da Cultura e Inclusão Produtiva.



Reunião dos agentes da Cáritas Brasileira que atuam na Economia Popular Solidária - Foto: Arquivo Cáritas

O economista Roberto Marinho Alves da Silva, também atuou no Governo Federal na gestão de políticas públicas de trabalho e economia solidária, de 2003 até 2016. Segundo ele, as políticas públicas são uma conquista do movimento que lutou por um espaço na esfera estatal para o fomento e fortalecimento da prática. “Na trajetória de políticas públicas, o ambiente da economia solidária está altamente desfavorável ao seu desenvolvimento. A política pública busca trabalhar a fundação de ambientes institucionais adequados e tratamentos diferenciados ponto de vista tributário e de leis de reconhecimento”, afirmou. “As políticas emancipatórias são importantes por possibilitar o crescimento dos sujeitos por processos formativos e construção ativa nas alternativas locais, assim como na perspectiva de uma transformação da sociedade”, concluiu.


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