Entre os dias 19 e 23 de maio de 2025, uma delegação formada por representantes da Cáritas Brasileira, do Secretariado da América Latina e Caribe da Cáritas (SELACC) e do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM) participou da Semana Latino-Americana e Caribenha do Clima, realizada na Cidade do Panamá. O evento integra a agenda da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) e reuniu representantes de governos, sociedade civil, setor privado, academia e povos originários.
Durante a semana, a delegação acompanhou espaços estratégicos como o Fórum de Implementação da UNFCCC, a Cúpula da Natureza (Nature Summit) e um encontro de organizações da sociedade civil promovido pela rede Transforma. A programação fortaleceu articulações rumo à COP30, que ocorrerá em Belém (PA), em novembro de 2025.
Cúpula da Natureza (Nature Summit)
No Fórum, o governo brasileiro apresentou a proposta de um “mutirão global”, uma abordagem inovadora para a construção de consensos na governança climática, baseada em ações concretas e colaborativas, rompendo com o modelo tradicional de negociações.
Na Cúpula da Natureza, teve destaque a escuta ativa das redes da sociedade civil. Em diálogo com Alice Amorim, Chefe da Assessoria Extraordinária para a COP30 do Ministério do Meio Ambiente, a Cáritas reforçou a necessidade de mecanismos efetivos de participação popular e escuta dos territórios no processo preparatório da conferência.
"A principal mensagem que a Cáritas levou ao governo brasileiro e aos espaços de diálogo durante a Semana do Clima foi inspirada na proposta da conversão ecológica do Papa Francisco. Reafirmamos nosso papel como organização católica, também como parte do movimento ecumênico e inter-religioso, comprometida com a mobilização das comunidades e das bases populares para participarem ativamente desse mutirão global pela justiça climática”, comentou Lucas D ́Avila, assessor nacional da Cáritas Brasileira.
“Destacamos que a emergência climática não pode ser tratada apenas a partir de números e métricas. É preciso olhar para a pessoa humana e reconhecer perdas e danos que muitas vezes são invisibilizados: perdas imateriais, fragilidades espirituais, morais e emocionais que afetam profundamente a vida das pessoas. Foi um ponto que levamos aos debates e que reforça a urgência de políticas sensíveis às realidades dos territórios”, acrescentou.
Também foi defendida a necessidade de transformar a dívida dos países mais empobrecidos em esperança, como propõe o Papa Francisco, o que passa diretamente por uma crítica ao atual modelo econômico político. O apoio vai além da escuta: é sobre construir pontes reais entre as comunidades e os espaços de decisão, rompendo com a lógica histórica de exclusão. “Para nós, enfrentar a crise climática exige unir as bases para transformar esse modelo que gera desigualdades e agrava a emergência que vivemos”, concluiu.
Encontro ecumênico
Além das atividades principais, a delegação também participou de um encontro ecumênico, de articulações com a Cáritas Panamá e, no encerramento da agenda, de uma reunião regional promovida pela Transforma, que reuniu redes da sociedade civil de toda a América Latina. Na ocasião, as organizações reafirmaram a urgência de uma transição climática justa, que enfrente as causas estruturais da crise sem recorrer a falsas soluções nem perpetuar desigualdades históricas.
O encontro ecumênico foi marcado pelo reforço ao “Chamado à Ação Rumo à COP30”, documento lançado pelo movimento ecumênico como preparação para a próxima Conferência do Clima. A iniciativa expressa o compromisso das organizações religiosas com a justiça climática e a construção de um futuro sustentável. A Cáritas Brasileira é uma das signatárias do documento, que convoca uma atuação conjunta, profética e comprometida diante da crise climática.
Inspirada na proposta de conversão ecológica do Papa Francisco, a delegação reforçou que enfrentar a emergência climática requer uma transformação profunda do atual modelo econômico e político, colocando no centro a dignidade da vida e o cuidado com a Casa Comum.