No município do Cantá (RR), o projeto Orinoco, da rede Cáritas, instalou três reservatórios de água e iniciou a instalação de módulos de banheiro, com sanitários e chuveiros. “Tudo isso é um benefício para nós que vivemos aqui”, disse a moradora Alida Gómez.
No município do Cantá, numa região que fica a 30km de Boa Vista (RR), migrantes venezuelanos da etnia Warao, que antes moravam na ocupação Ka’Ubanoko, encontraram uma melhor e mais segura forma de se abrigar. No entanto, no começo da mudança, ainda em maio deste ano, a falta de água potável era uma dificuldade enfrentada pela comunidade Warao a Janoko - que na tradução para o português, significa Casa Warao.
A comunidade Ka’Ubanoko foi criada em 2019, em um espaço pertencente e abandonado pelo governo de Roraima, na cidade de Boa Vista. Chegou a abrigar, no início, mais de 900 indígenas venezuelanos, sendo 150 famílias, que deixaram o país de origem diante da crise econômica e social. O que no começo era considerado por eles um espaço seguro, se tornou um ambiente de medo quando a Operação Acolhida, do Governo Federal Brasileiro, iniciou as ameaças de despejo, até consolidar o desalojamento em janeiro deste ano.
A saída dos migrantes foi pauta de muitas reuniões e audiências públicas. A solução encontrada pelos representantes políticos foi remanejar a população da comunidade para um dos abrigos de Boa Vista. Situação não confortável para os moradores, pois no espaço encontraram superlotação e impossibilidade de viver em autonomia, conforme citavam em entrevistas na época.
Em maio deste ano, parte dos moradores da antiga Ka’Ubanoko conseguiu, com ajuda de parcerias, comprar um terreno no município de Cantá, e viver de forma mais livre e autônoma.
As 15 famílias que hoje se abrigam no local, precisavam pedir água na vizinhança para conseguir cozinhar e manter os cuidados básicos de higiene. A realidade começou a mudar quando o Conselho Indígena de Roraima (CIR) perfurou um poço artesiano para a comunidade e o projeto Orinoco: Águas que Atravessam Fronteiras, da rede Cáritas, instalou três reservatórios, com capacidade para armazenar até 2 mil litros cada.
Agora, a comunidade indígena tem água potável dia e noite, como também a oportunidade para viver a cultura tradicional, como antes faziam em sua terra no país vizinho: plantar. “O apoio que temos recebido nos fortalece porque com essa ajuda conseguimos ter água para regar nossas plantações”, contou a moradora Alida Gómez, que em volta da casa onde mora tem pé de macaxeira, de banana e de limão.
ÁGUAS DE ESPERANÇA
O controle da qualidade da água é monitorado mensalmente, por meio de uma parceria da Cáritas com a Universidade Federal de Roraima (UFRR). O trabalho permite investigar os critérios de potabilidade estabelecidos na portaria de consolidação nº 05/2017, do Ministério da Saúde.
Além dos reservatórios de água instalados na comunidade, o projeto Orinoco também iniciou a implantação de módulos de banheiro, com sanitários e chuveiros, tanques para lavagem de roupas e estrutura própria de saneamento. “O sistema de tratamento de esgoto foi feito pensando na não contaminação do solo, principalmente porque eles cultivam raízes e vegetais de alimentação crua.”, explica Raphael Macieira, coordenador nacional do projeto.
A obra é realizada com uma assessoria externa e conta com a parceria da própria população indígena venezuelana que mora no local.
“Graças ao Orinoco, que iniciou o projeto dos banheiros aqui, de acordo com as necessidades de urgência que temos nesse lugar. Hoje, o projeto está sendo concluído e estamos todos agradecidos pelos trabalhos que estão sendo realizados: as ajudas de higiene, higiene pessoal, os tanques de água e também as orientações que nos dão acerca do Covid”, contou a Alida, que é tesoureira da associação dos moradores de Casa Warao.
Orinoco é um projeto da rede Cáritas, financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional e Bureau for Humanitarian Assistance (BHA/USAID). Desde 2019, a ação atua em Roraima com oferta de água, saneamento e promoção de higiene para migrantes e refugiados venezuelanos em situação de ruas nas cidades de Boa Vista e Pacaraima.
Neste ano de 2021, a ação também acolheu comunidades tradicionais que recebem indígenas vindos da Venezuela e o grupo que deixou a antiga ocupação urbana Ka’Ubanoko, em Boa Vista, após indisposição com o Governo Federal Brasileiro e ameaças de despejo.