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14 de maio: o dia que ainda não acabou

Geral

Em vídeo: depois da abolição, há mais de cem anos, a luta do povo negro continua.

Publicação: 14/05/2021


O Brasil foi o maior destino de tráfico de africanos escravizados no mundo, somando quase 5 milhões de pessoas. Também foi o último país da América a abolir a escravatura.

Quando falamos da abolição, muito se fala sobre princesa Isabel, que teve seu nome marcado nesse processo. Esse fato é lembrado como um ato de empatia e de benevolência da princesa para com os negros escravizados, mas nunca podemos nos esquecer sobre a diferença e o peso das ditas narrativas no nosso país.

A verdade é que a princesa teve uma importância lateral para o fim da escravização no Brasil, que em suma, foi impulsionado por outros diversos fatores na década de 1880, entre eles, uma importante participação popular, protagonizada pelos principais interessados na abolição, os escravizados, junto aos negros livres e brancos com ideais abolicionistas.

“O movimento abolicionista é fundamental no processo para o fim da escravidão, mas ele vem compor com uma luta que é histórica da população negra pelo fim da escravidão. Então na verdade a resistência à escravidão, ela começa quando a escravidão é instituída no Brasil. Desde que existe a escravidão no Brasil, existe resistência a essa escravidão.” conta nossa convidada Ynaê Lopes, Professora do Instituto de História da UFF.

A forma que a abolição ocorreu, sem apoio para os ex-escravizados começarem uma vida nova, tem consequências negativas até hoje, sendo a principal causa da profunda desigualdade racial e social brasileira.

“Quando a comunidade negra atentou para a tal lei assinada pela pseudo Princesa Isabel, que a gente continuava escravo e que o país, na sua sutil e nobre crueldade, armava outros mecanismos de escravidão, a gente entendeu que isso perdura até o dia de hoje.” afirma  nosso convidado Lazzo Matumbi, cantor e compositor, sobre a data.

Por esse motivo, o movimento negro não comemora a data 13 de maio, mas sim o 20 de novembro, que marca a morte de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, representando a resistência negra no país. Mas isso não significa que a data não deva ser lembrada. A gente precisa recontar a história, exaltando os heróis e heroínas que lutaram pelo fim da escravidão, sem esquecer que, 130 anos depois da abolição, a desigualdade persiste.

“Nós temos um processo de abolição inconclusa no nosso país” afirma Vilma Reis, socióloga e ativista, e complementa: “É inconclusa porque a terra no Brasil foi dividida 38 anos antes da abolição. O dia 14 é o dia seguinte, e porque é um dia de reflexão? Porque não temos o que comemorar? Porque nós saímos com uma mão na frente e outra atrás. Nós fomos empurradas das fazendas para os morros. O dinheiro, mais uma vez, a riqueza do nosso país, construída por mãos negras, como diz Emanuel Araújo, foi todo carreado para os brancos filhos das colônias e donos das fazendas.”

A nossa história precisa ser recontada para lembrarmos quem somos nós.

Racismo. Ou você combate, ou você faz parte.

Confira o material em vídeo preparado pelo Canal Preto:



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