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Pré-assentamento Terra Prometida, em Sobradinho (DF), inaugura horta orgânica

Áreas de Atuação

Participação e gestão comunitária une 36 famílias em agrovila para a produção orgânica de hortaliças e frutas do cerrado

Publicação: 20/12/2019


Horta orgânica

Horta orgânica, pré-assentamento Terra Prometida, em Sobradinho (DF)


Por Osnilda Lima - Comunicação Cáritas Brasileira

Fotos: Tainá Aragão - Comunicação Cáritas Brasileira


A 25 quilômetros do Palácio do Planalto, em Sobradinho (DF), localiza-se o Pré-assentamento Terra Prometida. No último fim de semana, a Associação dos Trabalhadores Rurais da Agricultura Familiar e Reforma Agrária (ASTRAFTP/DF) inaugurou a horta orgânica. Fazem parte da associação, 38 famílias, que vivem no sistema de agrovila, pois ainda não receberam suas glebas.  As famílias somam um total de 156 pessoas, entre crianças, jovens, adolescentes adultos e idosos, sendo as crianças, mulheres e idosos a maioria. 

“É maravilhoso, bom demais, isso aqui é só você pegando, arrancando uma folha e comendo, pra saber que é saudável e muito bom. O sabor é outro! Maravilhoso! Sem veneno! É comer do nosso próprio punho, comer o que a gente plantou”, conta Raimunda de Jesus, 54 anos, pré-assentada, enquanto nos oferece folhas de rúcula para comermos. Ela conta o trajeto até se chegar ao cultivo das hortaliças, pois em 2011 as famílias ocuparam a área que estava improdutiva e pertencia a uma única pessoa, mas que estava com a documentação irregular. “Foi muito difícil, nada fácil, enfrentamos derrubadas umas seis vezes, a primeira vez a gente saiu e ficou dormindo embaixo do pinheiro e no dia seguinte subimos pra beira da estrada e de lá também houve várias derrubadas, depois conseguimos entrar”, relata.

Horta orgânica

 Raimunda de Jesus, na horta orgânica, no Terra Prometida


Gilberto Portes de Oliveira, assessor jurídico da ASTRAFTP-DF, conta que a concretização da horta só foi possível via aporte financeiro do Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com o apoio da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do Governo do Distrito Federal (Seagri/GDF), da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Coordenadoria Ecumênica de Serviços (Cese). “A produção é totalmente orgânica e tem como principal objetivo, nesse primeiro momento, a autossustentação das famílias e, em seguida produzir para o mercado regional e demonstrar que é possível viver de agricultura de forma organizada, produzindo alimentos saudáveis numa cultura que venha preservar o meio ambiente e fundamentalmente a saúde das famílias que moram na comunidade”, afirma Gilberto. 

A horta comunitária contem 16 hectares de produção orgânica: hortaliças e frutas. As famílias cercaram o terreno e com o aporte financeiro e a orientação técnica iniciaram a produção que, por enquanto, é para o uso da comunidade, mas há a prospecção de torná-la fonte de renda às famílias pré-assentadas.   

José Francinélio Ramos da Silva (Nélio), 56 anos, coordenador do Terra Prometida, conjectura: “Hoje ainda não dá pra gente viver totalmente daqui, a gente tem que tá fazendo bico aqui, ali. A gente tem o objetivo de crescer a horta pra nos sustentar e poder comercializar”. Nélio conta o caminho percorrido desde 2001 e as motivações que o fizeram resistir e permanecer na busca pelo território. “Olha é uma paixão pela terra, a vontade de trabalhar na agricultura mesmo. A gente chega a uma situação de vulnerabilidade muito grande, sem dinheiro, sem nada, às vezes, o pouquinho que a gente tinha acaba. A situação é por paixão, por precisar mesmo, a gente não acostuma na cidade. Então minha vida será essa e de muitos outros aí. E a realidade é a reforma agrária!”, afirma. 


José Francinélio Ramos da Silva (Nélio), coordenador do Terra Prometida


Em busca de superação - As necessidades imediatas para dar continuidade ao trabalho é assistência técnica, de pessoas especializadas, que promovam capacitação para a produção orgânica.  Outra necessidade é a definição da área, os pré-assentados não receberam do Incra o licenciamento ambiental. Com isso, as famílias não estão de posse de suas glebas. Outra necessidade urgente é a liberação da água, pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa). “A gente necessita de infraestrutura, recursos para ampliar a produção, para ter o mínimo de máquinas pra atender a demanda colocada, mas o principal desse momento é termos a posse definitiva da área. A liberação da água é essencial para gente fazer a irrigação da horta,” explica Gilberto. 


Comunidade do pré-assentamento Terra Prometida, em reunião


A Cáritas Brasileira e a Cáritas Arquidiocesana de Brasília também se somam ao Terra Prometida, com o Projeto Redes de Cooperação Solidária, iniciativa que visa fortalecer 136 empreendimentos em todo o território nacional, na coprodução de soluções em redes de cooperação para o desenvolvimento sustentável territorial. O Terra Prometida faz parte da Rede Mangaba, articulada pela Cáritas, são 12 empreendimentos de Economia Popular Solidária, no Distrito Federal e Goiás. O Projeto vai favorecer o adensamento e verticalização das capacidades dos empreendimentos para chegarem à cadeia, em Rede, de incidência social e monetária. 



Andreia Marinho com filhos: Petrônio, Paulo César, Matheus e Eduardo


Andreia Marinho, 28 anos, mãe de quatro filhos, e cuidadora de três enteados, é pré-assentada e sonha em crescer com família em sua gleba: “É um sonho realizado ter onde colocar os meus filhos pra interagir com a natureza, ver que a gente tem que cuidar, que preservar, assim como a gente pode tirar os nossos frutos. Eu nunca gostei, meus meninos todos comem fruta, verdura orgânica, não esses negócio de industrializado”. Andreia vivia na cidade, de aluguel, e conta que as crianças não tinham espaço para brincar. “Eles queriam ir pra rua e não podiam, queriam brincar e não podiam, nem andar de bicicleta, onde a gente morava o quintal era apertado. Então viemos para cá. Hoje não penso em ir embora. De noite você não precisa acordar com tiro, você acorda com o cachorro, com o galo cantando. É tranquilo demais!”, conclui Andreia. 

 

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