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Instalações sanitárias com chuveiro e lavanderia favorecem acolhida de venezuelanos em Pacaraima

Projetos

A cidade fronteiriça entre Brasil e Venezuela terá espaços com lavanderia, chuveiros e bebedouros para uso das famílias migrantes

Publicação: 24/01/2020


Obras no Centro de Formação Comunitária da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Pacaraima (RR). As instalações devem ser inauguradas ainda em fevereiro de 2020. Foto: Evilene Paixão


Por Evilene Paixão - Comunicação Cáritas Diocesana de Roraima

Localizado ao extremo Norte do estado de Roraima, a 215 quilômetros da capital Boa Vista, a cidade de Pacaraima, na fronteira entre Brasil e Venezuela, é município com maior taxa de crescimento da população no país, segundo estimativa calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em julho de 2019. 

O aumento da população tem se intensificado desde 2017, com a forte migração de venezuelanos. Neste período, a cidade tinha cerca de 12.375 habitantes. Em 2019, o município fronteiriço ganhou quase duas mil novas pessoas, um aumento aproximado de 12%. 

Com a cidade pequena e precária, os novos habitantes sofrem com a falta de políticas públicas nos diversos setores como segurança, educação, saúde e moradia. Em 2018, Pacaraima também já foi palco de grandes conflitos xenófobos, chegando ao ponto da população local expulsar famílias migrantes que viviam em situação de rua.

Ruas de Pacaraima - De acordo com os dados da Organização Internacional para Migrações (OIM), em julho de 2019, cerca de 642 pessoas estavam desabrigadas, vivendo nas ruas e praças de Pacaraima. Em dezembro, o número de pessoas nas ruas diminuiu por conta das festividades natalinas. Nessa ocasião muitos migrantes retornaram à Venezuela para ficar junto às famílias. Passado esse período, os números devem voltar a crescer nos primeiros meses de 2020.

Diante da realidade na fronteira do Brasil com a Venezuela, em julho de 2019, a Cáritas Brasileira em parceria com a Cáritas Diocesana de Roraima, apoiadas pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), implementaram o projeto Orinoco: Águas que atravessam fronteiras. A iniciativa tem o objetivo de oferecer para a população migrante em situação de rua, água, saneamento e promoção de higiene, por meio da construção de banheiros sanitários, chuveiros, abastecimento de água e lavanderias.

Instalações Orinoco - Dois pontos já foram construídos em Boa Vista: um na Igreja de Santo Agostinho, no bairro Pricumã, outro na Igreja Nossa Senhora da Consolata, bairro São Vicente. As instalações ficam próximas à Rodoviária Internacional de Boa Vista, ponto focal de circulação de migrantes e refugiados. 

Já em Pacaraima, a construção das instalações, no Centro de Formação Comunitária da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, começou em dezembro de 2019. No local, serão disponibilizados 08 banheiros sanitários, 08 banheiros com chuveiros, 14 lavatórios com pias, fraldário, 02 máquinas industriais de lavar roupas, 01 secadora industrial de roupas, 01 bebedouro de 200 litros, sistema de captação de água da chuva e sistema de painéis solares. A previsão é que as instalações sejam inauguradas ainda no final de fevereiro de 2020. 

Segundo a assessora nacional da Cáritas Brasileira para emergências, Cristina Luthner, o projeto disponibiliza instalações sanitárias de qualidade para migrantes e pessoas que se encontram em situação de rua ou vivendo em ocupações improvisadas. “Com o aumento da entrada de pessoas na fronteira, Pacaraima não estava preparada para receber esse grande fluxo migratório. Então, para ajudar nessa acolhida e dar um pouco mais de dignidade a essas pessoas, o projeto Orinoco, está construindo instalações no Centro de Formação Comunitária da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, para oferecer acesso a condições sanitárias de qualidade. O Orinoco se preocupa ainda com os impactos ambientais, por isso, contará com um reator anaeróbio para tratamento do esgoto gerado na instalação e painéis solares para a lavanderia. O projeto busca trazer um pouco de conforto e melhoria de saúde pública, tanto em Pacaraima como em Boa Vista”, destacou.


Padre Jesus Bobadilla,  acompanha a construção no Centro de Formação Comunitária da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Pacaraima, com o engenheiro Gustavo Nunes, responsável pelas obras . Foto: Evilene Paixão


Saúde e dignidade - A missionária Ana Maria da Silva, da congregação de São José de Chambery, está há quase dois anos em Pacaraima, colaborando com os trabalhos humanitários da Igreja Católica com migrantes e refugiados. Para ela, o projeto vai dar a dignidade que essas pessoas merecem. “Na realidade hoje, eles lavam roupas e tomam banho em poças de lama. Mesmo com o rio e riachos aqui em Pacaraima, os migrantes não conseguem tomar banho porque são recachados pelos brasileiros que ficam atirando pedras neles. Muitas pessoas vem aqui na minha casa pedir remédios para doenças de pele e tudo isso por lavar roupas e tomar banhos em águas paradas. Por isso, a possibilidade de lavar roupas e usar banheiros com água limpa e sabão vai dar dignidade e melhorar a saúde desses migrantes”, disse a missionária.

Próximo a construção vive o venezuelano Angel Medina, de 29 anos. Ele a esposa e as duas filhas, com três e um ano de idade, chegaram a Pacaraima no dia 25 de dezembro do ano passado, com esperança de dias melhores. Mas não foi exatamente o que aconteceu. O migrante vive fazendo pequenos bicos e vendendo café nas ruas da cidade fronteiriça. Ele contou que muitos compatriotas são explorados e fez um apelo: “A ONU precisa tomar alguma medida, precisamos receber o justo pelo que trabalhamos”, desabafou. Quando soube da construção das instalações em Pacaraima, Medina confirmou as dificuldades enfrentadas para as famílias migrantes que chegam em Pacaraima. “Aqui a vida não é fácil e esse espaço vai ajudar muitas famílias”, concluiu. 

Atividades nas instalações - Além de oferecer as estruturas com banheiros sanitários, chuveiros e lavanderias, outro objetivo fundamental do projeto humanitário Orinoco é a promoção de higiene. Por isso, uma equipe de educadores e educadoras sociais realizam atividades nas instalações e dialogam a respeito da importância, por exemplo, de lavar as mãos e manter autocuidado com o corpo como forma essencial para manter a saúde integral.

Em Pacaraima, três educadores sociais do projeto já atuam na promoção de higiene dentro do Abrigo de Passagem BV8, gerido pela Operação Acolhida. O local recebe migrantes que não tem residência na cidade e estão em situação precária, principalmente, crianças, mulheres grávidas, idosos e pessoas com algum tipo de deficiência.

Outro ponto focal de promoção de higiene é o Café Fraterno, localizado na Igreja São Francisco e coordenado pelo padre Jesus Bobadilla, com o apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e Operação Acolhida, do Governo Federal. O local funciona há mais três anos e neste período já ofereceu mais de 600 mil cafés. “Aqui, começamos com 50 pessoas, servindo os povos indígenas venezuelanos da etnia Warao, mas hoje, quase três anos depois, recebemos mais de mil pessoas diariamente. Agora, estamos caminhando para um milhão de cafés nos próximos meses. E nossa ação já foi noticiada no mundo todo”, explicou padre Jesus.



Há mais de três anos existe o Café Fraterno em Pacaraima. Nos próximos meses o espaço atinge a marca de um milhão de cafés servidos para migrantes e refugiados em Pacaraima. Foto: Adriana Duarte


Almoço Fraterno - Com o aumento da população em Pacaraima por conta da migração, padre Jesus se viu desafiado a seguir em mais um plano humanitário. Assim nasceu o Almoço Fraterno que, segundo ele, a ação terá início ainda neste mês de fevereiro. “O Almoço Fraterno nasce a partir do Café Fraterno, da necessidade de combater a fome das pessoas que tanto necessitam. A princípio vamos servir almoço para 100 pessoas”, explicou. “A paróquia está aberta a todo tipo de parceria. Quem puder nos ajudar pode me procurar. Estamos aqui de braços abertos para receber e fortalecer essa ajuda humanitária. Estou com as portas abertas para receber materiais, apoio financeiro e voluntários”, enfatizou o religioso.

Padre Jesus também é responsável pelo Centro de Formação Comunitária da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, onde estão sendo construídos as estruturas dos banheiros, chuveiros e lavanderias. “A gente sabe que a fome é o que mais preocupa a todos com esse grande fluxo de migrantes, mas sabemos que existem muitas outras necessidades e uma delas é a higiene, a limpeza que no início não parece tão importante, mas percebemos que é algo indispensável. Obrigada por esse sábio trabalho da Cáritas e outras organizações aqui em Pacaraima”, finalizou o padre.


 



    


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