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Catanorte em Porto Velho (RO) aposta em formações para fortalecer o trabalho de catadores

Projetos

A cooperativa implantou seu Planejamento Estratégico para otimizar processos de administração, produção e escoamento de produtos

Publicação: 20/03/2020


Por Olga Oliveira – Especial para a Cáritas Brasileira

Fotos: Virginia Maria Yunes – Especial para a Cáritas Brasileira 


José Augusto dos Santos Dias é integrante da Catanorte desde a fundação em 2010.

Eu não respiro mais este ar puro, mas quero que minhas filhas e os netos possam respirar no futuro. Trabalho por precisão e trabalho também por amor a causa”, refletiu José Augusto dos Santos Dias, que trabalha há 18 anos como catador de materiais recicláveis.


Francisca Neta da Silva trabalha como catadora há 12 anos e gosta de trabalhar na cooperativa por poder fazer seu horário e ter tempo para os filhos.

“Por aí alaga muito por causa de muita sujeira nos rios, nos esgotos, porque uma garrafa pet, um ferro, não se acaba não, ele demora muito para se decompor, fora as doenças que traz, como a dengue, porque se enchem de água e com isso vêm os mosquitos. Então, com meu trabalho eu consigo ajudar um pouco para que estas coisas não aconteçam”, diz Francisca Neta da Silva de 31 anos.


A história dessas pessoas se interligam na luta por renda digna e também na preservação da natureza. José Augusto e Francisca são catadores de materiais recicláveis em Porto Velho (RO). Ambos fazem parte da Catanorte, uma cooperativa de coleta e comercialização de resíduos sólidos. 


A Catanorte nasceu em 2010 a partir de uma associação de catadores e catadoras que viram a necessidade de se fortalecer e operacionar seus trabalhos em forma de cooperativa. A ação começou com 22 cooperados que atualmente são 53. As atividades são geridas nos princípios de autogestão, solidariedade e coletividade da Economia Solidária.


Para saber mais sobre Economia Solidária acesse Cáritas Brasileira aposta na Economia Popular Solidária como meio de transformação social.



Toni dos Santos Industrial, de 32 anos, também integra o Movimento Nacional dos Catadores no estado de Rondônia.


“A coletividade faz a diferença na produção e nos salários. Estas realidades nós só conseguimos perceber depois que organizamos o trabalho que entendemos os processos. Vimos também que se comercializarmos em conjunto temos um valor e uma produção melhor. São vários fatores que a gente conseguiu observar depois da organização da associação em cooperativa e as várias formações e intercâmbios que tivemos ao longo dos 15 anos de trabalho que vamos realizando aqui na organização dos catadores”, contou o atual diretor de Finanças da Catanorte, Toni dos Santos Industrial. 




A luta coletiva da Catanorte é por toda a classe de catadores e catadoras de Porto Velho, mesmo os que não fazem parte da cooperativa. “Seguimos na luta não só pela cooperativa, mas para poder ajudar todos os catadores de Porto Velho, para conseguir um espaço físico, um terreno, um galpão pequeno, o kit básico que eles já têm, e que o pouquinho que você contribui ajuda, já cria uma expectativa muito grande para eles, uma motivação”, continuou dizendo Toni Industrial.


Toni também contou sobre as grandes dificuldades enfrentadas pela cooperativa na área de transporte de carga e suas altas taxas tributárias. A dificuldade acontece principalmente pela falta mercado para determinados produtos em Rondônia, criando a necessidade de transportar para outros estados como São Paulo e Rio de Janeiro. Muitas vezes o custo é tão alto que eles preferem nem comercializar certos produtos.


Outra dificuldade enfrentada é com os atravessadores, por não haver coleta seletiva institucionalizada em Porto Velho. O trabalho dos catadores e catadoras individuais acaba por ser desvalorizado uma vez que esses atravessadores compram suas mercadorias por um valor muito abaixo do mercado. Além disso, há uma grande rotatividade de catadores e catadoras na cidade, principalmente pelos migrantes do sul da amazônia nas proximidades de Porto Velho. “É difícil estabelecer processos de capacitação porque quando a grande maioria está formada, chega outro grupo, que passa pouco tempo e acaba prejudicando o trabalho coletivo”, contou Toni Industrial.


Apesar dos desafios, já são dez anos de trabalho coletivo e os trabalhadores e trabalhadoras não desanimam, estão dispostos a resistir e estudar foi a maneira mais eficaz de se fortalecer e continuar firme.


A Catanorte faz parte do projeto de Fortalecimento da Economia Solidária no Brasil, executado pela Cáritas Brasileira e financiado pela União Europeia, BNDES e Fundação Banco do Brasil. Em parceria com a associação ambiental Ecoporé, os recursos foram utilizados na implantação de um Planejamento Estratégico que ajuda a otimizar os processos administrativos, de produção e escoamento dos produtos, bem como pensar estratégias para enfrentar os problemas com os atravessadores de sucatas.




“Pela primeira vez a cooperativa teve profissionais para nos auxiliar,  conseguimos estabelecer metas. Nos ajudaram nos caminhos para organização, além  de toda formação que foi de grande valia porque hoje temos uma visão para o negócio e para classe dos catadores. Entendemos a importância do trabalho de beneficiamento do material, além de fazer todo o trabalho de coleta, separação e fazermos o beneficiamento do lixo”, afirmou Toni Industrial.


A parceria também rendeu em uma logomarca e um site institucional. “Então, dentro da Catanorte nós somos parceiros na verdade. Nós desenvolvemos o planejamento estratégico junto com eles, fizemos o website, a logomarca. Esse projeto também veio para fortalecimento da cooperativa porque muita gente não se conhecia, trabalhavam juntos mas não se conheciam.  Depois que começamos de forma didática, muito lúdica, muito tranquila, falando a língua deles, eles começaram a ver que eles podem trabalhar juntos. Foi realizada uma capacitação na parte administrativa, falando o que um diretor faz, o que um tesoureiro faz, qual a responsabilidade de cada um. Isso foi muito bom para ampliar a visão deles”, contou o presidente da Ecoporé, Paulo Henrique Bonivago.



Dona Maria Celina sente orgulho do trabalho que faz e gosta da independência e flexibilidade de horários que tem com ele.


Assim, as histórias das pessoas envolvidas com a cooperativa tecem sonhos. Maria Celina Leles Castro, de 65 anos, tem o objetivo de morar melhor. “Continuo trabalhando para juntar dinheiro para reformar minha casa aqui na vila, que ela é velhinha e precisa. Não sei ainda se vou reformar, ou comprar outra melhor, ainda estou pensando. Eu agradeço a Deus por até hoje ter me dado saúde e força para trabalhar, tudo que conquistei foi com o meu trabalho, faça chuva ou sol”, disse.

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